I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 95

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se tem, pois está sendo governada sem a participação de seu povo, sem democracia, até o
mar, que deve ser, pelo que flagramos em sua poesia, o lugar natural que o homem busca
para libertar-se, se torna um exílio, uma fuga.
Há, ainda, poemas que falam da guerra colonial entre Portugal e África, como em
“Guerra ou Lisboa”:
GUERRA OU LISBOA
Partiu vivo jovem forte
Voltou bem grave e calado
Com morte no passaporte
Sua morte nos jornais
Surgiu em letra pequena
É preciso que o país
Tenha a consciência serena.
(ANDRESEN, 2011, p.606).
Aqui, Sophia insere a ironia em seus versos, ao colocar lado a lado os jovens e a
morte. São versos que pretendem chocar a sociedade portuguesa que compactuava com a
guerra colonial, deixando as mortes dos jovens portugueses passar em letras pequenas nos
jornais. Ao aproximar por meio da rima essa mesma “letra pequena” com “consciência
serena”, torna-se ainda mais sarcástica, pois essa provocação agride o regime colonial e
todos aqueles que fecham os olhos às barbáries dele decorrentes. O mesmo ocorre com as
rimas “forte”, “morte” e “passaporte”, que diz que os jovens que saiam do país para lutar na
África, voltavam quase sempre, ou sempre, mortos.
Assim, Sophia escolheu falar de modo extremamente provocador, onde o silêncio
das letras pequenas, o não poder abrir o assunto e falar dele com as letras grandes que
mereciam, consentia com as atrocidades da guerra. Portanto, Sophia provoca toda a
sociedade portuguesa da época, que preferia fechar os olhos ao ler as letras pequenas que
denunciavam o índice de mortalidade da guerra colonial ou as torturas relacionadas ao
regime ditatorial.
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