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Formaram uma só
Hoje nossas mãos ternas
E nossos braços calejados
Vão libertar-nos das correntes
Que não nos deixaram viver
Que não nos deixaram amar.
(GARCIA, 1998, p. 148).
Querer retirar a venda remete ao momento do despertar, que os levariam
desvendados, ao seu verdadeiro caminho: a consciência de si. A conscientização dos povos
africanos foi realizada mediante muita tortura, fora e dentro dos tarrafais, nas celas das
prisões políticas. Assim, o ousar saber, enxergar a si próprio de que fala Vera, remete aos
terceiro e quarto versos de Pessoa em
Horizonte
(
Mensagem
, 2010, p.56): “Desvendadas a
noite e a cerração/ As tormentas passadas e o mistério”. Esse desvendar teve consequências
fatais, no entanto, necessárias: as revoltas cresceram e formaram uma só. O caráter coletivo
na poesia de guerra de Vera Duarte emerge como a solução contra o colonialismo, a união
dos povos africanos está vinculada à força coletiva das ações anticoloniais.
No poema
Mensagem
, parodiando e ironizando Fernando Pessoa, Vera expõe essa
característica dos “grandes africanos” e eterniza não os seus nomes e atos em particular,
com padrões que os inscrevem, mas como um todo, os atos dos guerrilheiros resultaram em
liberdade, eles são os heróis anônimos do cotidiano, que construíram a sua Pátria:
MENSAGEM
Mártires!
Mártires!
Nenhum de vossos nomes ficará na história
E os homens do futuro
Não saberão cada um dos vossos feitos
Mas que importa?
De vós ficará a memória colectiva
Dos homens que construíram
A Pátria nova
Tudo o que hoje temos