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Silva e alcunha NgolaKiluanje, é apresentado, enquanto rememora suas aventuras sexuais
com sua namorada carioca Jussara, e introduz a sua terra, Angola. Na segunda parte, temos
a apresentação de um chamado narrador-autor, que fala pouco de si mesmo, e dá o tom de
suas intervenções: sempre provocativas. Toda a segunda parte é escrita entre parênteses, o
que parece indicar que as intervenções do narrador-autor serão assim. Na terceira parte
devolve-se a voz ao narrador personagem, que nos diz o lugar onde nasceu, apresenta-nos
sua família, nos narra sem detalhes sua partida do Huambo para Portugal, e nos indica o
desgosto de seu pai para com a nova pátria. A quarta parte é iniciada com uma fala de
Jussara sobre o oceano Atlântico, mas o narrador-personagem acaba por narrar sua chegada
ao Brasil e a vida de sua família aqui, sua estadia no Recife até a morte da mãe, a ida para o
Rio de Janeiro, sua decisão de voltar para Angola, a despeito dos pedidos de seu pai para
que ficasse, e finalmente a anuência de seu pai para que partisse. O narrador-autor cede a
voz ao pai do narrador-personagem para dar a conhecer, na quinta parte, o discurso sobre a
situação de Angola e da família quando lá vivia, o que foi apenas referido na quarta. Na
sexta parte o narrador-personagem começa contando como o discurso do pai o abalou e
como foi Jussara quem lhe deu forças e apoio para permanecer firme em sua decisão de
voltar para Angola, e termina por narrar como conheceu-a. A sétima parte, a mais curta, é
narrada pelo narrador-autor sem parênteses; termina com Jussara e António na cama,
formando uma espécie de narrativa circular, já que foi assim que o conto começou. A
estrutura do conto fica um pouco solta, especialmente por essa tentativa de circularidade
que destoa da narrativa, e pode-se creditar isso à forma como as tensões que estruturam a
narrativa são resolvidas.
As personagens são o narrador-personagem António Manuel da Silva, angolano
branco, vivendo fora de Angola, o pai do narrador, sua mãe, um autor angolano não
nomeado (mas que pela epígrafe vale a pena apostar que seja Ruy Duarte de Carvalho), que
em palestra no Rio de Janeiro diz algumas frases que tocam Jussara, a namorada do
narrador-personagem. Vale a pena prestar atenção na composição de Jussara:é filha de
negro e índia e militante do movimento negro, além de se aproximar de António (e
renomeá-loNgolaKiluanje) por querer entrar em contato com suas raízes. Isso tudo está no
texto, essa personagem nos serve de bom exemplo para observar aquele momento em que o
externo passa a compor o texto e torna-se interno a ele (como nos diz Antonio Candido):