I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 76

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BALADA DE AMOR AO VENTO: DENÚNCIA E QUESTIONAMENTO DA
SOCIEDADE MOÇAMBICANA.
Danielle Fernanda Danelli (UFSCar)
Jorge Vicente Valentim (UFSCar)
RESUMO: Paulina Chiziane, no seu primeiro romance publicado,
Balada de Amor ao Vento
(1990), nos atenta para questões intrínsecas da sociedade moçambicana, entre elas: o papel que a
mulher cumpre em uma sociedade essencialmente patriarcal, a poligamia (explícita nessa obra) e o
lobolo praticado por alguns extratos dessa cultura. Para a análise desta obra torna-se importante
compreender como as relações pós-coloniais existentes no país e também certas relações de poder
(que agora se estabelecem dentro da própria nação, isto sem falar numa perspectiva e numa
dimensão maior, ou seja, para fora também do contexto unicamente interno) são reinscritas em um
cenário global. O poder desta literatura, produzida em contextos pós-coloniais, reside na
contestação das falhas e das rasuras desse novo sistema, dando voz aos discursos marginalizados e
evidenciando as vozes periféricas e subjugadas (no caso do romance, as mulheres). Dentro deste
cenário, Paulina Chiziane propicia um espaço para as vozes dessas mulheres, justamente para
colocar em evidência quão subjugada são essas falas e como ainda se encontram no seio da cultura
moçambicana atual. São essas vozes femininas que, metonimicamente, denunciam as atrocidades
vivenciadas por outras dentro desse corpo social, muitas vezes dominado por um poder patriarcal e
preconceituoso em relação ao papel feminino dentro deste contexto.
Palavras-chave: Pós-colonialismo; O Feminino na Literatura.
Paulina Chiziane, no seu primeiro romance publicado,
Balada de Amor ao Vento
(1990), nos atenta para questões intrínsecas da sociedade moçambicana, entre elas: o papel
que a mulher cumpre em uma sociedade essencialmente patriarcal, a poligamia (explícita
nessa obra) e o lobolo praticado por alguns extratos dessa cultura. Nesse romance a autora
“atualiza um discurso que incluiu o questionamento e a denúncia, dando voz e criando
espaços de reflexão ao sujeito que é “silenciado”, tendo como intuito apelar à mulher
moçambicana para uma mudança consciencializada” (Inocência Matta, 2007, p.437).
Nesse romance, a poligamia é uma das temáticas predominantes. Paulo Granjo
(2005, p. 26-27), de acordo com os preceitos islâmicos, define essa cultura: “... ao homem,
que deseja possuir uma multiplicidade de mulheres, só é permitido fazê-lo se puder
sustentá-las de maneira digna e sem diferenciação”, no entanto essa afirmação não se limita
somente ao âmbito econômico, abrange também a relação do homem com suas diferentes
esposas. No contexto moçambicano, devidamente retratado na obra, acontece uma inversão
desses valores, como podemos observar no seguinte excerto:
1...,66,67,68,69,70,71,72,73,74,75 77,78,79,80,81,82,83,84,85,86,...196
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