I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 71

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Aproveitando a presença do português, o narrador conta sobre a discussão que ele
e Firmino debatiam sobre a língua portuguesa. O português defende a língua recordando-se
da tese defendida por Agostinho da Silva. Depois da explicação do português que retoma as
ideias daquele, de que “as línguas aperfeiçoam-se às geografias que colonizam”. (...)
(AGUALUSA, 2005, p.98). Ao complementar sobre as diferenças de sotaque, o brasileiro
se convence dessa diferença:
(...) Num horizonte amplo, desafogado, o sotaque é mais aberto, e numa
paisagem fechada ele tende a fechar-se. Assim, no Brasil, em Angola ou
em Moçambique as pessoas falam a nossa língua abrindo mais as vogais,
e nos Açores, na madeira, em Portugal continental, mas também em Cabo
Verde, fecham-nas. (AGUALUSA, 2005, p.98).
Assim o português conquista “o árduo coração de Firmino Carrapato”.
(AGUALUSA, 2005, p.98). Aquele depois de ficar um bom tempo revirando os livros
chama Firmino e lhe mostra quais escolheu. No entanto, um intriga o dono do sebo, livro
cujo título é
Dis
curso sobre o Fulgor da Língua. O velho lhe explica que foi um doutor do
Maranhão que escreveu, mas nunca alguém havia lido, ainda pergunta se o português tem
certeza de que quer levá-lo. O outro afirmou que sim, nesse caso Firmino resolver dar o
livro.
Uma semana depois o narrador encontra o português muito feliz. Foi então
que descobriu que dentro do livro que o velho deu ao português havia um bilhete do próprio
autor, que dava um casarão para quem comprasse sua obra e a lesse, termina o conto com o
português falando para o angolano: -“E sabe uma coisa? O livro é bom!”(AGUALUSA,
2005, p.99).
Ao refletir brevemente sobre este conto, podemos dizer que mantém uma
forma simples, os fatos ocorrem quase todos em praticamente um dia, nota-se também uma
boa dose de ironia, há um primeiro momento no qual o narrador descreve o espaço da
história, o sebo de Firmino Carrapato, e a relação deste com seu ambiente de trabalho
descrito como uma bagunça “a desordem era legítima e muito antiga” (AGUALUSA, 2005,
p.96), e também como esse narrador chegou ao sebo. A segunda parte inicia-se com a
discussão de ambas personagens sobre a língua portuguesa, especificamente o português
falado em Portugal, do qual Firmino diz não entender nada. E por fim temos o desfecho
inusitado com o português de se dando bem.
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