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do patrão Campos. Então, naturalmente para ele, em seu desejo projetado na ocupação do lugar do
patrão, via a sucessão do cargo do seu suposto pai como a lógica a ser seguida.
Por isso, com a morte do patrão Campos, e com a descoberta um pouco antes de seu
falecimento de sua real paternidade, surge uma oportunidade mais que favorável para a realização
de seu desejo. Assim sendo, seu destino será concretizado, todavia, o fracasso o acompanhará, já
que junto às poucas bonanças de sua vida, a desgraça vem como “companheira” trágica de seu fado.
Então, com a morte de seu pai, Maria Helena assume o comando das minas e chama João
Xilim para ajudá-la e propõe o seguinte:
-Então, João?!...
Nada se arrisca a prometer. Os negros hão de esquivar-se a voltar a
trabalhar naquele poço onde ficaram enterrados para sempre vinte e três
companheiros. E terá coragem para lhes falar isso?
-Vou ver, menina...
João Xilim acaba por falar com os mineiros, um a um. Louva a bondade
da filha do dono da mina, prometendo-lhes novas regalias para quando ele
for capataz. E os negros, relutantes a princípio, mas também sem outras
alternativas de ocupação que a da emigração para a cidade ou para
Kaniamato, acedem a pegar nas ferramentas e tornam a extrair o carvão da
mina do Marandal. (MENDES, 1966, p. 41)
Maria Helena indica João Xilim como o novo capataz das terras de seu falecido pai,
contudo Xilim ainda continua submisso às ordens de sua senhora, o único diferencial da sua
infância para agora é que poderá mandar e desmandar em seus companheiros. Mas como Xilim tem
ambição de colonizador e quer, por isso, chegar a ser o dono de tudo, já que é o filho bastardo do
recém-falecido patrão Campos, não se satisfaz com a posição alcançada, portanto, sua cobiça,
envolvida na confusão de seus sentimentos e ao espaço de injustiça social e racial que o cerca, será
conduzida ao fracasso e, mais uma vez, a fuga de seu espaço geográfico e, principalmente, de suas
indagações e a evasão de si mesmo, serão as saídas para acalentar por um tempo o seu sofrimento.
João Xilim tem um dinamismo e uma grande ambição pela nova função que ocupa no
vilarejo, mas ao mesmo tempo em que este dinamismo o move, também o derruba. Assim como seu
padrasto Uhulamo foi capataz das minas de carvão, agora ele o será, e ainda mais, como, na
verdade, o seu pai biológico era o grande patrão Campos, o dono de tudo que ali o cercava, a sua
cobiça e seu sentimento de propriedade são exacerbados.
Essa atitude faz um diálogo com uma das personagens da literatura brasileira que mais
caracterizam este grande entusiasmo movido pela sua ambição, Paulo Honório, o dínamo
emperrado do romance
São Bernardo
, de Graciliano Ramos. Tanto Xilim quanto Paulo Honório