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de sua trajetória, entretanto, uma delas é crucial para a arquitetura de seu percurso, isto é, quando a
personagem descobre sobre a sua verdadeira paternidade o seu destino trágico e fatídico é
propulsionado.
O herói trágico de
Portagem
, cego para o seu destino em descompasso como o seu orgulho
extremo, tem a revelação de sua origem biológica através da confluência de duas forças, primeira:
como a sua cor de pele distinguia-se dos demais indivíduos de seu ambiente de convivência, João
Xilim, regularmente, fazia um questionamento sobre este fator que o diferenciava e o repelia da
sociedade em que vivia; segunda: como não encontra uma resposta legítima as suas indagações,
acidentalmente, descobre quem é o seu verdadeiro pai através do
reconhecimento,
ou também
processo conhecido como
anagnorisis,
proporcionado pela própria narrativa, desencadeando, assim,
uma das maiores decepções de sua trajetória.
Aristóteles, em
A poética clássica,
afirma que estas sensações são acionadas nos heróis cujo
destinos são marcados pela ventura ou desditas. Estes elementos,
anagnorisis, peripécias,
são
provenientes das grandes tragédias clássicas, como:
Édipo Rei,
de Sófocles,
Medéia,
de Eurípedes,
todavia, é perceptível que o romance
Portagem
tem um diálogo com a tradição literária, sendo que
alguns traços daqueles estão presentes neste.
Joseph Campbell diz que no gênero épico, quando um herói nasce, ou o seu pai já está
morto, ou está em algum lugar desconhecido, por isso, quando o progenitor não habita o seio
familiar, há o desejo da partida do filho com o intuito da concretização do fortuito (re)encontro.
Mas para que a partida seja concretizada, há a necessidade do
reconhecimento/anagnorisis
, já que,
na maioria das vezes, o pai é desconhecido, não se sabe, nem ao menos, qual seria a sua forma
física ou a sua precisa antecedência. E, segundo Aristóteles, há a seguinte definição para este
processo de recognição:
O reconhecimento, como a palavra mesma indica, é a mudança do
desconhecimento para o conhecimento, ou à amizade, ou ao ódio, das
pessoas marcadas para a ventura ou a desdita. O mais belo
reconhecimento é o que se dá ao mesmo tempo que uma peripécia, como
aconteceu no Édipo. (ARISTÓTELES, 1995, p. 30)
Após o
reconhecimento
da paternidade por Xilim, e da confirmação do acobertamento de
sua real procedência por sua mãe, a personagem envolve-se por uma grande sensação de ódio e de
vingança, jurando em dar tempo ao tempo para verem do que seria capaz de fazer. E partir disso,
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Orlando Marques de Almeida Mendes, nasceu na ilha de Moçambique no dia 4 de agosto de
1916. Poeta, contista, romancista, dramaturgo e crítico literário, tem larga colaboração dispersa pela
imprensa moçambicana e portuguesa. Falece em 1990, em Maputo.