I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 61

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Ainda que cercado pela injustiça que sua cor carrega, ele também faz uso de sua posição
social como um “álibi” ao seu favor, tornando-a então a grande ferramenta que o impulsiona para as
conquistas de suas ambições particulares; enquanto conseguir dar motivação a esta empreitada irá
lutar friamente por ela; quando seu sonho for deformado pela realidade cruel, irá fugir da conquista
de seus devaneios. Como é possível observar na sua relação com Maria Helena, o seu amor de
infância, enquanto os dois davam sinais de carinho recíproco, Xilim investia nessa relação, quando
não mais havia espaço para os dois, fugia de seus sonhos:
Pega-lhe na mão. João Xilim estreme e aperta ao de leve, muito
suavemente, a mão de Maria Helena [...] João Xilim acaricia lhe
meigamente o braço nu e Maria Helena fecha os olhos, ofegante [...]
– João, um de nós tem eu ir embora do Marandal. Escolhe, depressa.
-Vou eu, menina.
Vira as costas e sai. E nunca mais ouviram falar dele no Marandal.
(MENDES, 1981, p. 44)
Antes mesmo de saber da sua real origem, Xilim já aspirava por um status social diferente
daquele que tinha, pois a sua ambição como sujeito das terras do Marandal era de um dia ser o que
seu pai era, o dono das terras das minas de carvão. Com isso, Xilim era mais um indivíduo em um
ambiente colonizado, porém com “cabeça” de colonizador.
Mesmo sendo filho de uma mulata pobre e de um suposto capataz das minas, por ter sido
criado dentro da casa do patrão branco, a sua formação é conduzida de modo diferenciado dos
demais moleques da cidade, por isso, uma grande confusão é ativada no seu âmago, imergindo a
personagem num grande desconhecimento de si própria, gerando um indivíduo muito ressentido e
solitário na fase adulta.
Apesar de ter um desequilíbrio para com o seu espaço, Xilim é um herói orgulhoso e,
reiterando a ideia já exposta, com status de colonizador. Portanto, é um herói que, ao encontrar com
o diferente, assume o outro como ideal do que queria ser, tanto que na primeira oportunidade que
tem para assumir uma posição mais alta no vilarejo, tendo o colonizador como a diferença a ser
seguida, a aceita sem muita hesitação, já que dali em diante poderia mandar nos negros e mulatos e
até nos brancos colonos, visto que seria o capataz das minas; mas lá em seu âmago, isto ainda não
era suficiente, queria ser dono de tudo, o dono das minas do Marandal e mandar em todos os
negros.
Na verdade, o que pulsa no interior da ambição de Xilim é conquistar o local do pai,
substituir o pai. Este desejo é movido pela sua cobiça que emana naturalmente do seu meio de
convívio social, já que residia entre os negros, mulatos e brancos, todavia fora criado dentro da casa
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