I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 65

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Retomando, portanto, o destino de Xilim vinculado à busca do pai como forma de encontrar
o seu próprio destino, observa-se que por mais que se trace um destino inverso às peripécias das
profecias para as quais o herói esteja predestinado, não há como fugir do heroico ou trágico
desenlace da narrativa. Tudo está amarrado e antecipado, por mais que a personagem fuja de sua
destinação e encontre outros modos de vivenciar o que uma determinada profecia possa vir a causar,
no final tudo estará de acordo com o que já fora pré-estabelecido inicialmente. E assim o destino de
Xilim é contemplado. Ele tenta, insistentemente, fugir de sua dor, de sua origem e de suas relações
trágico-amorosas, entretanto tudo converge para um único fim: a desgraça de seu destino.
Aliás, enquanto na epopeia e na tragédia a profecia é um elemento importante para a
narrativa, enrijecendo a forma de um destino dado de antemão, pois se prenuncia aquilo que ocorreu
num passado absoluto, não importando, portanto, o que acontece ou o que virá a acontecer, no
romance, a predição é o elemento que ganha destaque, pois o autor e a narrativa agem sobre um
futuro sobre o qual se quer predizer e influenciar.
Um dos recursos muito utilizados pelo romance, que faz o uso do retorno ao passado como
forma de explicar o presente, é a digressão, que auxilia no afastamento daquilo que está sendo
narrado no presente para o passado. A fim de encontrar uma explicação lógica para o fato narrado
no presente, deixa-se a narrativa suspensa e, com auxílio do retrocesso, volta-se para um
determinado momento do passado da personagem, enfocando os detalhes e os esclarecimentos,
para, posteriormente retornar a ação deixada no presente dando continuidade ao fluxo narrativo.
Esta ferramenta utilizada ao narrar, conhecida também como retardo ou retrocesso, auxilia na
construção do enredo, pois assim, como as grandes epopeias, o importante não é chegar ao fim, já
que este é sabido deste o começo, mas sim nas técnicas e formas pelas quais a trajetória do herói é
narrada. Como no famoso trecho da
Cicatriz de Ulisses
, no qual há o
reconhecimento
da
personagem por meio da cicatriz que Ulisses tem em sua coxa. A partir daí, há uma grande
regressão na narrativa para explicar o porquê da marca, e só após deste grande retrocesso que se
volta para o presente; com isso, gera-se uma maior tensão ao fato narrado, deixando o leitor dentro
de um grande labirinto de histórias contidas por micro histórias.
Xilim tem a sua história cercada por retrocessos narrativos, destacando e antecipando
algumas informações com relação ao seu destino, - sendo certos prenúncios do enredo - ou mesmo a
explicação de algum fato deixado para trás, assim há um maior entrelaçamento por parte do leitor
para com o fado da personagem, e também o processo narrativo ganha certa densidade, porque há
uma maior focalização nos fatos em ação.
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