I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 73

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(AGUALUSA, 2005, p.96). Já o sebo de Firmino era assim: (...) “No sebo do Velho
Firmino Carrapato, porém, a desordem era legítima e muito antiga. Três gerações de
Carrapato haviam contribuído com o seu demorado labor para aquele espléndido caos.” (...)
(AGUALUSA, 2005, p. 96).
As pistas que esse narrador apresenta para que possamos pensar na
nacionalidade do dono do sebo, aparece primeiro quando ele começa a descrever sua
chegada no estabelecimento e conta que sebo é o nome mais comum no Brasil: “Chegara
ali um náufrago, de mochila às costas, e logo me fascinara o improvável alfarrabista, ou
sebo, nome mais comum no Brasil.” (...) (AGUALUSA, 2005, p.96). Esse trecho já induz a
pensar em sua nacionalidade, logo após iniciada a discussão sobre a língua portuguesa, o
velho Firmino é da opinião que em Portugal não se fala português, o narrador tenta
convencê-lo, mas não consegue e desiste ao confirmar que os filmes deviam ser exibidos
com legendas no Brasil, mostra, assim, que era um brasileiro. E no final do conto, através
do discurso direto, Firmino afirma que quem escreveu o livro que dá ao português era do
Maranhão: _”
Discurso sobre o Fulgor da língua
? Foi um doutor daqui, do Maranhão, que
escreveu isso, mas nunca ninguém o leu.” (AGUALUSA, 2005, p.99). Ao colocar “daqui,
do Maranhão”, imagina-se que ele também é do Maranhão, é claro que não podemos
afirmar que a personagem tenha nascido no Brasil, não há dados concretos acerca de sua
origem, porém por meio dos fragmentos levantados deduzimos que seja sim brasileiro,
diferente das outras duas personagens que não possuem nome, no entanto, sabemos que um
veio de Angola e o outro é português.
É interessante notar também, que no decorrer do conto pouco se utiliza do
discurso direto, o narrador expõe a sua voz na maioria da história, em poucos momentos
transpõe a voz direta do velho Firmino, como por exemplo, quando pergunta se o narrador
veio da África, e ao dialogar com o português interessado na aquisição do livro. E este
ganha voz ao entrar na loja, e no final do conto quando o angolano o encontra e o português
conta que herdara um casarão: _”Você não vai acreditar: herdei um casarão em Alcântara!”
(AGUALUSA, 2005, p.99), e ao comentar sobre o livro, _”E sabe uma coisa? O livro é
bom!” (idem). São apenas nesses momentos que percebemos a inter-relação entre as
personagens, nos outros se entende o conto pela visão apresentada pelo narrador-
personagem.
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