I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 86

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mas foram implantadas nas colônias portuguesas políticas racistas para garantir sua
exploração. Colonos e seus filhos detinham privilégios sobre as populações autóctones, e a
categoria assimilado é um dado do ordenado jurídico do sistema colonial português
moderno. Vale a pena investigar se decorre daí o mulato brasileiro e o mulato angolano
terem identificações diferentes – o brasileiro costuma estar muito mais próximo do negro,
enquanto o angolano encontra-se um pouco mais próximo atualmente do segundo que do
primeiro.
Por fim, sobre o colono branco, há uma passagem muito interessante em outro conto
do mesmo livro, O elevador: “os elevadores foram um dos artefactos que, para recorrer a
uma expressão popular, 'o colono levou' após a independência do país” (MELO, p. 17).
Trago-a para nos lembrar de que, quando da libertação de Angola, muitos colonos voltaram
para Portugal levando tudo que tinham, e o que não puderam levar, segundo relatos,
jogaram na baía de Luanda, para que se perdesse e não fosse usado pelos que ficavam.
Claro que não se pode reduzir toda a população branca a isso, mas esses são elementos que
demonstram como funcionava o modo de produção colonial e sua administração.
É interessante notar que no conto Ngola Kiluanje esses movimentos da realidade
tornam-se internos ao texto por meio do silêncio, mas um silêncio que deixa marcas. Essas
marcas, inclusive, podem ser lidas quase como um leitmotif do texto, que aparece em
termos como “ato-falho”; na tentativa de o narrador-personagem esconder a fala de seu pai
e de o narrador-autor decidir revelá-la; pelo narrador-personagem apontar para o
“infratexto”. Mas o maior índice do silêncio que deixa marcas está na estrutura narrativa: o
motivo real de a família de António deixar Angola nunca é revelado – pode ser uma dessas
famílias que tentaram levar tudo o quanto podiam e destruir o que não podiam, pode ter
sido obrigada a fugir, como deslocados de guerra (embora a possibilidade de escapar num
avião seja um indício de privilégio sobre aqueles deslocados que não podem fazê-lo). A
saída de Angola acaba se manifestando como um
Deus exmachina
: a família de António
precisa deixar Angola, porque ele precisa se formar no Brasil para então voltar a Angola.
Aparece como necessidade da narrativa, mas não como necessidade das personagens.
O incômodo de da Silva ou a desconstrução que vê dos Santos não são descabidos.
João Melo mescla uma ironia mordaz (talvez herdeira de Eça e Machado) com didatismo
brechtiano. Num discurso de tom confessional, em que o narrador-autor cede a voz ao pai
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