I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 91

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Tomaremos como ponto de partida para a leitura temática das poetas referidas, a
obra “Mensagem” de Fernando Pessoa, para problematizar a presença do mar como divisão
e ao mesmo tempo união entre portugueses a africanos durante o período sangrento da
guerra colonial. Assim sendo, elencamos alguns poemas das duas autoras, cuja essência é a
guerra, no entanto, dois deles que rementem diretamente à Mensagem de Fernando Pessoa:
“Mundo nomeado ou descoberta das ilhas” de Sophia e “Mensagem” de Vera Duarte.
Talvez um dos mais belos e sintéticos poemas de Vera Duarte sobre a guerra
colonial seja “Não mais!”. Nele, podemos perceber o percurso do povo africano até a
chegada de sua hora de viver e amar: a sua liberdade. A alusão, mediante uma
elaboradíssima metáfora, ao poder colonial como sendo um cego (poder colonialista) a
guia-los (os africanos), revela a sensibilidade feminina de que fala García, pois não pode
deixar de ser extremamente objetiva, fazendo uma síntese perfeita sobre a cegueira do
poder colonialista, guiando aqueles que podem ver, porém que foram forçosamente
vendados, em seus horizontes, o medo prevalecia.
Ora, vendados pela escravidão, pelo colonialismo, sendo guiados por cegos: o poder
que não enxerga a verdade a sua frente, ou seja, Portugal não pertencia mais a um tempo de
glórias, os grandes reis jamais retornariam, mas mesmo assim, os colonialistas ainda
acreditavam em uma época áurea. Estavam cegos:
NÃO MAIS!
Não mais estradas percorridas
Em longos caminhos sofridos
De olhos vendados indo
Pela mão de cegos guiados
Não mais vozes gritantes
Em lentas torturas caladas
No silêncio infernal das celas
Porque os olhos se quiseram abrir
Não mais mortes violentas
Irmãos nossos nós próprios
Nos tarrafais de todas as terras
Por termos ousado saber
As nossas revoltas cresceram
Avolumaram-se
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