I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 97

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Podemos remeter a palavra tempo, no poema, à volta de Portugal ao tempo real,
abandonando o imaginário glorioso para se reorganizar em seu presente. Assim, a crença do
sebastianismo deixava de ecoar naquela madrugada tão esperada. O 25 de abril, no poema
de Sophia, representa essa passagem, do imaginário para o real.
Em
Revolução
, Sophia também fala com proximidade aos versos de Vera: ela fala
da construção de uma nova habitação. Do homem que ergue uma nova casa, para habitá-la
sem a existência de fantasmas. O mar como voz interior de um povo está presente
novamente. O mar fala dentro dos portugueses. O mar, ancestral em Fernando Pessoa, que
busca as glórias das expedições e o horizonte de terras novas, em Sophia é revisitado: ele
novamente fala dentro do povo português, mas fala de seu interior, da busca por um novo
horizonte: a construção de um “tempo novo/ sem mancha, nem vício” (ANDRESEN, p.
229):
REVOLUÇÃO
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz de um mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação.
(ANDRESEN, 2011, p.619).
Portanto, Vera e Sophia, revelam a reconstrução de um espaço novo e liberto. A
construção de uma Nação e de uma nova Nação está presente em ambos versos, dos dois
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