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uma identidade africana. Nesse aspecto vale lembrar as palavras de Woodword (2000),
discorrendo sobre identidade e subjetividade:
A subjetividade envolve nossos sentimentos e pensamentos mais pessoais.
Entretanto nós vivemos nossa subjetividade em um contexto social no
qual a linguagem e a cultura dão significado à experiência que temos de
nós mesmos e no qual nós adotamos uma identidade. Quaisquer que sejam
os significados construídos pelos discursos, eles só podem ser eficazes se
eles nos recrutam como sujeitos. (
WOODWORD, 2000. P. 55)
A partir desses pressupostos, é importante destacar alguns aspectos das obras que
serão analisadas neste trabalho:
“Mestre Tamoda”: o discurso da afirmação da identidade e o discurso do não-ser.
O conto “Mestre Tamoda”, do livro
Mestre Tamoda e outros contos
(1985), em uma
leitura linear, relata a história do Mestre Tamoda, um angolano, nascido numa
sanzala
, que
viveu durante muitos anos em Luanda e, em contato com os portugueses e filhos de
portugueses, aprendeu de forma superficial a língua portuguesa, porém o suficiente para,
quando do retorno à sua vila de origem, apresentar-se como um “mestre”: “O novo
intelectual, no meio de uma sanzala em que quase todos os seus habitantes falavam
quimbundo e só em casos especiais usavam o português, achou-se uma sumidade da língua
de Camões.” (XITU, 1985, p. 10). Percebe-se, na fala irônica do narrador, como o Mestre
Tamoda assume ares de grande conhecedor da língua portuguesa e, com isso, uma postura
de superioridade perante as demais pessoas da vila. Na visão de Kandjimbo
Tamoda, simbolizando o mimetismo cabotino, é uma personagem típica
do mundo que, através da exibição de maneirismos, expõe hilariantemente
o uso da língua portuguesa perante uma audiência de jovens e crianças,
transformando-se em modelo, no que diz respeito ao emprego e
manipulação de vocabulários portugueses [...]. (KANDJIMBO, 2001, p.
161 )
No entanto, pelo desconhecimento da língua, o português utilizado pela personagem
e ensinado aos jovens era diferente da modalidade ensinada na escola, por isso o “mestre”
começou a aborrecer as autoridades e foi obrigado a não mais ensinar a língua que