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apenas palavras e pequenas frases no dialeto angolano, em
Manana
se verifica, além de
palavras, frases, orações e parágrafos inteiros em quimbundo, incluindo orações e cantigas:
_ “ Tata mpolo-éé
(ndundakuná)
_ Tata mpolo-éé
(ndundakuná)
........................” (XITU, Sd, p. 56)
O romance é narrado em 1
a
pessoa, assim, a voz que primeiro ressoa é a da
personagem Felinto, que conta a história. Porém, o narrador dá voz a outras personagens,
principalmente às mais velhas, que se pronunciam quase sempre em quimbundo. Neste
sentido, duas questões são colocadas:
1
a
O entrecruzamento das vozes sociais do narrador,em português, e dos velhos, em
quimbundo, evidenciaria, por um lado, a aculturação e, por outro, a tentativa de marcar e
manter a identidade africana?
2
a
Se, por um lado, a submissão de Manana ao tratamento realizado pelos
quimbundos e consequentemente a rejeição ao tratamento médico, bem como a desistência
de Manana a Felinto, poderiam significar a manutenção dos costumes africanos, por outro,
a “morte” de Manana e a desistência de Felinto a Manana não poderiam significar a
“morte” de uma cultura, a angolana, e a prevalência de outra, a portuguesa?
Colocadas essas questões, pensa-se que esse romance pode também ser analisado
pela ótica bakhtiniana, observando-se o pluriestilismo, o plurilinguísmo e a plurivocalidade
e que por essa análise pode-se chegar à questão da identidade e diferença, tendo como
aporte teórico os estudos culturais.
“Mestre Tamoda” e
Manana
Neste trabalho intenta-se trabalhar com duas obras de UanhengaXitu,
respectivamente, um conto e um romance. Embora sejam gêneros distintos, as duas obras
têm vários aspectos em comum, entre eles, a oralidade, marca do autor, marca de um fazer
poético que remonta às mais antigas tradições na arte de contar histórias e UanhengaXitu é
um grande contador de histórias. A oralidade nas obras faz com que o leitor se sinta
ouvindo contar dos anciãos as mais antigas histórias d’África, a diferença é que o narrador