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transita entre dois mundos africanos, o da tradição e o da aculturação, aspecto que permite
fazer soar nas obras vozes e discursos distintos. Ouvir essas vozes, entender e analisar esses
discursos é entender e analisar um pouco de Angola, um pouco da África e compartilhar de
um sentimento de africanidade e de negritude que também faz parte da identidade do povo
brasileiro, “visto que as posições que assumimos e com as quais nos identificamos
constituem nossa identidade”.
(
WOODWORD, 2000. P. 55).
Ainda que sua obra não seja grande, em termos quantitativos, haja vista que
muitos dos seus escritos se perderam durante o período em que esteve na prisão do Tarrafal,
nas literaturas africanas de expressão portuguesa UanhengaXitu é um dos nomes mais
representativos. Por meio da sua literatura, particularmente nas obras “Mestre Tamoda” e
Manana
podem-se ver representados aspectos históricos e sociais de Angola. Porém, apesar
de ter participado ativamente da História, o autor é um literato e não um historiador, assim,
esses aspectos não são mostrados ostensivamente, ao contrário, estão inseridos nas tramas
discursivas, nas vozes dos jovens e dos anciãos, revelando uma tensão entre a cultura local
e a cultura do dominador.
REFERÊNCIAS:
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