I Anais do Simpósio de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - SILALP - page 103

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aprendeu. Tamoda ainda tenta manter o
status
de mestre, porém o tempo encarregou-se de
desfazer seu pseudoconhecimento.
Sabe-se que Portugal impôs a utilização da língua portuguesa, como língua oficial,
em todas as suas colônias, em detrimento das línguas locais. No caso de Angola foi contida
a língua quimbundo. Todavia, o que UanhengaXitu realiza em “Mestre Tamoda” é a
ridicularização da língua portuguesa e mais, em sua narrativa ele mescla as duas línguas, o
quimbondo e o português. Diante disso, algumas questões são colocadas:
1
a
A ridicularização da língua portuguesa na narrativa seria uma forma de negar a
mesma e, com isso, tudo o que ela representava, inclusive a dominação política e cultural?
2
a
A mescla das duas línguas seria uma forma de tentar manter a identidade do
povo angolano?
3
a
A postura de Tamoda tentando sobrepor-se ao seu povo por meio de um
pseudoconhecimento não evidenciaria uma característica que se tornou comum,
principalmente em relação ao mulato, a do não-ser, ou seja, a do homem que não se
considera (ou não quer ser) mais africano, dada a aproximação com o branco, porém não
pode ser europeu?
Acredita-se que, por meio da análise do discurso das principais personagens,
tomando as concepções teóricas de Mikhail Bakhtin acerca de dialogismo, plurilíguísmo e
plurivocalidade, bem como das concepções sobre identidade e diferença, na perspectiva dos
estudos culturais, essa investigação possa ser realizada e respondidas as questões
mencionadas.
Manana
: tradição e aculturação
Também em uma leitura linear, em
Manana
pode-se vislumbrar a história de
Felinto, um homem casado, e suas peripécias para manter um noivado com uma jovem
chamada Manana. Além de precisar ludibriar a esposa, bem como a jovem noiva, Felinto
precisa conviver com as tradições, principalmente religiosas, que a família de Manana
cultiva. No entanto, essa história, aparentemente simples e curiosa, guarda aspectos
relevantes da cultura angolana como a tradição religiosa e mítica, a bigamia e a aculturação.
O que primeiro chama a atenção na obra é a oralidade e o entrelaçamento da língua
portuguesa com a língua quimbundo. Diferente de “Mestre Tamoda”, onde o autor mescla
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