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Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas
O VELHO ABUTRE
O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais
pequenas.
(ANDRESEN, 2011, p.431- 439).
No primeiro poema acima reproduzido, Sophia fala certamente das mortes e torturas
sofridas por aqueles que resolveram lutar contra a ditadura. Sua linguagem, ao mesmo
tempo clara e obscura não torna isso uma evidência, certamente alternativa estilística frente
à vivência da repressão sobre as publicações. No entanto, temos nessa mesma nebulosidade
expressiva, a direção exata das palavras para uma denúncia sobre a política do estado novo.
No verso “E por outras maneiras que sabemos”, além das troças, das insídias e dos venenos,
pode representar a tortura física, que de tão “peritas” “nem podem sequer ser bem
descritas”. Já em “O velho abutre”, a poeta utiliza-se de uma comparação (abutre/ditador) e
sintetiza os atos do ditador que “têm o dom de tornar as almas mais pequenas”.
Sophia representava a ditadura em seus poemas também por meio do espaço, ou
seja, era no espaço desorganizado e fechado das cidades, que o eu-lírico de seus versos
deparava-se com os muros, as paredes e também as grades, o que flagramos no poema
Exílio:
EXÍLIO
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades.
(ANDRESEN, 2011, p.431- 432).
A sua linguagem, mais uma vez, recoberta de claridade e ao mesmo tempo
reservando certa opacidade, reproduz a revolta ao regime. Ao falar de uma pátria que não