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contra o sistema colonial, aquele que via no Brasil uma ex-colônia de Portugal que deu
certo. Não criticamos a ideia de solidariedade e contato entre as nações de língua
portuguesa, pelo contrário, achamo-nos necessários. Contudo, nesse conto, essa
solidariedade aparece mais como uma maneira de António recuperar a ancestralidade, e a
narrativa encerra-se aí. Jussara é uma figura central, é a personagem que mais se
desenvolve ao longo do conto: é ela quem revê suas posições, é ela quem renomeia
António, mas suas funções no fundo são acessórias: ela está ali em função da trajetória do
amante, seja para entendermos sua posição nas contradições raciais de Angola, seja para lhe
dar forças para o que tem que fazer, seja para resolver a narrativa (veja-se a última parte,
em que o narrador-autor finalmente pode narrar sem uso dos parênteses, indício de solução
das tensões do conto). Essa fragilidade não é apenas do texto, mas um dos nossos grandes
impasses históricos, e esbarra no limite da literatura: não pode ela sozinha entregar a
solução de um dilema tão profundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CANDIDO, Antonio.
Literatura e sociedade. São Paulo: Ouro sobre azul. 10ª Edição. 2008
MELO, João. O elevador. In Filhos da Pátria. Contos. Luanda: Colecção Letras Angolanas, 2001.
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2001.
Schwarz, Roberto. Um mestre na Periferia do Capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas
Cidades; Ed. 34, 2000.
SANTOS, Emanuelle Rodrigues dos. Estórias da subjetividade pós-moderna: Configurações
identitárias na prosa de ficção de João Melo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2010.
SILVA, Cibele Verrangia Correa da.A narrativa de dois Joões: um diálogo sobre identidades.
Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade Estadual Paulista. Assis, 2010.