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entender como Lobato reagiu diante das adversidades e o que sentiu em tais momentos.
Dessa forma, será possível explicar suas ideias, comportamentos e atitudes. E,
consequentemente, repensar algumas interpretações sobre a história do petróleo no Brasil.
Para atingir tal objetivo será utilizada como fonte a correspondência, ativa e
passiva, de Monteiro Lobato que trata da campanha que organizou pela exploração do
petróleo, entre os anos de 1927 e 1941. Dessa forma, será possível mapear a rede de
sociabilidade que construiu por meio da troca epistolar, identificar as representações
presentes nas cartas e realizar o cruzamento dessas análises com outros documentos e
estudos históricos. Assim, será possível explicar atitudes e ideias contraditórias, confrontos,
sucessos, fracassos e outros aspectos da campanha de Lobato.
Isso se faz necessário porque durante a campanha de Monteiro Lobato o ato de
escrever cartas se transformou em uma importante estratégia de luta política. Muito utilizada
para conquistar o apoio de lideranças políticas, burocratas, militares, intelectuais,
empresários e outros. Além disso, serviam para elaborar estratégias de ação, firmar pactos
de aliança, combater adversários, solicitar favores governamentais e manter em contato os
adeptos da causa. Nos momentos em que não havia liberdade de expressão, Lobato utilizou
a carta para se manifestar e, por fim, muitas missivas foram apropriadas por seus biógrafos
com o intuito de construir a memória da campanha.
Especificamente neste texto abordo algumas questões tratadas no primeiro capítulo
da tese, portanto, optei por iniciar a discussão tentando entender como Lobato, inicialmente,
envolveu-se nos debates sobre o desenvolvimento industrial brasileiro e, em seguida,
discuto as características do projeto siderúrgico que formulou nos Estados Unidos, nos anos
de 1927 e 1928, e identifico as estratégias para viabilizá-lo.
A chegada de Lobato nos Estados Unidos e sua inserção nos debates sobre o
desenvolvimento industrial brasileiro
Antes de embarcar para os Estados Unidos, Monteiro Lobato revelou, em carta ao
amigo Godofredo Rangel escrita no dia 23 de março de 1927, suas expectativas e planos
para a viagem:
Passei a manhã de hoje emançando cartas – como tenho cartas, meu Deus!
Apesar do destroço que a cada mudança nelas faço, ainda as conservo às
centenas; das que dizem algo interessante para a história da minha vida e
da contemporânea, não me desfaço. Tuas, quantas e quantas! Conservo-as
todas. Desta feita parto para longe. Estou a fazer a bagagem. A 27 de abril
sigo de mudança para os Estados Unidos, para onde fui nomeado Adido
Comercial. Verei se lanço lá a edição inglesa do
Choque das Raças
e
estudarei a hipótese do transplante da nossa segunda empresa editora. Se
for possível, chamar-se-à Tupy Publishing Co. e há de crescer mais que a