Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 57

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pontuado pelos afazeres que dão ritmo e ordenamento ao cotidiano local: o tempo do
passeio, da escola, do esporte, do trabalho, do lazer, além da promessa de alcançar a cura,
no futuro, por meio do trabalho científico.
Serão transcritos, a seguir, alguns trechos extraídos da narração do filme que são
relevantes no contexto deste estudo. Eles indicam, em seu discurso, alguns dos elementos
de valorização do trabalho e do conceito de modernidade que se pretende investigar.
Quando é apresentada, a modernidade das residências (aos 3 min. e 12 seg. do
filme), os cômodos devidamente arrumados, limpos e decorados também mostram um
elemento secundário: a valorização da ordem (organização dos espaços e seus usos), da
disciplina (divisão entre moradores casados e solteiros) e do asseio (respeito às regras de
convivência):
Nessas casas bigeminadas, em número de trinta e quatro, residem os
casais da localidade. Em outros bangalôs, divididos em compartimentos,
habitam os internados solteiros. Tanto na parte externa quanto interna dos
prédios constatamos perfeito asseio e ordem. Um lar com todo o conforto de
uma residência moderna. (ASILO..., 1944, 3’12”).
Residência na qual as pessoas não aparecem
usufruindo
de seu conforto, mas
trabalhando
: em uma das cenas, aparece, rapidamente, uma mulher fazendo serviços
domésticos, demonstrando o asseio mencionado e apreciado (de 3’35” a 3’40”). Ainda que a
criação do asilo-colônia fizesse parte das medidas adotadas para lidar com a endemia da
lepra dirigidas
aos doentes
, o personagem principal do filme é o
asilo-colônia
. As imagens
servem como ilustrações da narrativa do locutor, que não aparece no filme, o que lhe
confere um caráter impessoal e (supostamente) mais científico.
Mais importante do que informar sobre a doença
7
(mostrar seus sintomas, ou abordar
os meios de contágio, por exemplo), é valorizar o aspecto
científico
, a estrutura clínica, a
atuação dos médicos. Pode-se notar esta mesma estética nas produções educativas do
INCE:
O sujeito dos filmes é a Alavanca, a Balança, o sapo e seus músculos, que
adquirem vida própria, autônoma em Músculos Superficiais do Homem. Não
há interesse no gesto de quem faz o experimento ou a demonstração, mas
o aporte científico em si. Se isso, por um lado reitera a intervenção do
artifício cinematográfico, por outro provoca o efeito contrário. Tudo emana
da imagem, como se a filmagem e seus responsáveis não existissem. O
mundo da ciência se naturaliza uma vez mais por esse efeito de
transparência criado pela câmera. (SCHVARZMAN, 2002, não paginado).
7
Em 1948, foi produzido um filme, chamado
Onde a esperança mora,
cuja abordagem contempla estas questões, ainda que a
valorização da ciência seja a tônica do discurso. Este filme será analisado posteriormente. Nota da autora.
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