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de funcionários, passaram diversos cineastas, entre eles, Almeida Fleming (diretor do filme
que será analisado), ainda que por um curto período, e Humberto Mauro. No período de
1936 a 1947, fase em que houve a influência de Roquette Pinto na escolha de temas, Mauro
produziu 239 filmes, dos quais 95 foram feitos para divulgação cientifica e técnica
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(SCHVARZMAN, 2002, não paginado). A frequência deste assunto indica a importância
dada às novas tecnologias, sobretudo à contribuição de cientistas brasileiros.
Em vigor desde 1937, a partir do golpe de Estado de Getúlio Vargas, o Estado Novo
introduziu novas regras ao regime político, bem como ações para o crescimento econômico,
industrial e tecnológico. Se estas regras e ações mudaram internamente o exercício da
democracia e da representatividade política e civil, o contexto internacional também seria
determinante sobre a nova conjuntura política do país, por causa da participação do Brasil
na Segunda Guerra Mundial. Apesar da imagem de heróis da pátria atribuída aos soldados
brasileiros, a participação do Brasil na guerra mostrou-se desastrosa, de acordo com
Capelato (2003, p. 136), do ponto de vista econômico, fazendo piorar a carestia no país.
Para não perder o apoio da população, uma série de ações com relação à política, à
legislação e à previdência trabalhista foi posta em prática, até no âmbito sindical e na
instituição de uma Justiça do Trabalho, bem como a criação do salário mínimo. Ângela
Castro Gomes (1999, p. 55) aponta estas ações como uma política de
ordenamento
de
mercado de trabalho, com base na qual se constrói “uma estratégia político-ideológica de
combate à pobreza, que estaria centrada justamente na promoção do valor do trabalho”.
Assim, ele não seria visto apenas como meio de satisfazer as necessidades individuais, mas
antes, como meio de servir à pátria. Mais do que isso, o trabalho era o caminho para sair da
pobreza e resolver os problemas econômicos e sociais, rumo ao progresso. Deste modo,
tanto a ascensão social do trabalhador, como o progresso do país dependiam da
intervenção do Estado. Neste contexto, a imagem construída para o trabalhador (homem
bom e honesto) tem papel importante, pois situa este personagem como parte da
“engrenagem”, ao atribuir-lhe uma identidade de alguém de valor, com direitos e obrigações.
Era o Estado, personificado na figura de Vargas, que possibilitaria o aceso
dos trabalhadores aos instrumentos de realização individual e social. Desde
então, no Brasil, a relação homem do povo/Estado, fundou-se, em grande
medida, nessa mitologia do trabalhador como fonte de riqueza, felicidade e
ordem social. (GOMES, 1999, p. 71).
Os internos no asilo-colônia, por sua vez, cumpririam seu papel dentro deste projeto
de nação moderna por meio de regras de conduta estabelecidas para eles, por meio da
Instituto Nacional de Cinema Educativo. 2002. Disponível em: <
histcinema/100-sheila-schvarzman>. Acesso em: 13 mar. 2014.
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Entre eles,
O combate à lepra no Brasil
, de 1945, e mais cinco curtas metragens/informativos abordando o tema, produzidos
na mesma década.