Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 60

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estas pessoas e como o Estado (supostamente) cuida delas ao mostrar o asilo-colônia como
local civilizado, organizado, disciplinado, apto a mantê-las ali, mesmo que à força.
Do ponto de vista da investigação histórica, mesmo que houvesse falhas em sua
formulação, as ideias de Ferro, para compreender este tipo de produto cultural como
documento histórico, foram muito relevantes. Considerando sua pertinência quanto ao tema,
foi alvo de debates e reformulações importantes para aprimorar as análises deste tipo de
fonte. No caso do filme
Asilo-colônia Aimorés
, uma produção de divulgação política e
ideológica, esses cuidados devem ser redobrados.
Para analisar estas imagens, foi necessário considerar não só a conjuntura e as
circunstâncias políticas e sociais da época da produção do filme, mas também os elementos
que lhes conferem significados, a partir desta mesma conjuntura. Assim, não se pode
descartar, na análise deste tipo de produção cultural, seus elementos semiológicos, uma vez
que é por meio deles que se torna possível compreender os diversos recursos e elementos
presentes no discurso contido em sua narrativa.
Tendo em vista a riqueza deste tipo de fonte, outras questões podem ser formuladas,
ainda que não sejam contempladas neste artigo, por fugirem ao seu escopo. Entre elas, está
a possibilidade de mapear por onde estas ideias e valores, legitimados por meio de diversos
mecanismos e instituições governamentais, circulavam. Embora requeira outros aportes
teóricos, até sobre a recepção das ideias, um estudo sobre a circulação destas imagens e
ideologias pode oferecer novos subsídios para a compreensão não só de seus significados,
mas também de sua veiculação e sua importância. Deste modo, as pesquisas em que o
cinema aparece, seja como fonte, veiculador de um discurso, seja como prática social,
podem configurar novas dimensões de análise.
Referências
ASILO-Colônia Aimorés.
Direção: Almeida Fleming. Departamento de Imagem e
Propaganda. São Paulo, 1944, SP. 35mm, (9min 50 seg.), son., BP, curta metragem/não
ficção. Disponível em: <
>
.
Acesso em: 04 out.
2013.
BURKE, P. Narrativas visuais. In: BURKE, Peter.
Testemunha ocular
: história e imagem.
Bauru, SP: Edusc, 2004.
CAMARGO, A.G.F.
Asilo-Colônia Aimorés
. Relatório de higiene. São Paulo: 1942. (mimeo.)
CAPELATO, Maria Helena. O Estado Novo: o que trouxe de novo? In: DELGADO, Lucília de
Almeida Neves; FERREIRA, Jorge (Orgs.).
O Brasil Republicano – v. 2,
Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003. p. 107-143.
FERRO, Marc. O filme, uma contra–análise da sociedade? In: LE GOFF, Jacques; NORA,
Pierre.
História: novos objetos
. Rio de Janeiro: Ed Francisco Alves, 1988. p. 199-215.
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