Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 68

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profissionalizada e estruturada numa carreira. Tal situação permitia ao Presidente nomear
para os cargos do Ministério intelectuais ligados às oligarquias agrárias (GARCIA, 2006).
Assim como outros escritores que aturam no Itamaraty no mesmo período, Lobato
possuía o capital social necessário para ser nomeado adido comercial, na principal cidade
do nosso maior parceiro econômico. Pois pertencia a tradicional família da oligarquia
paulista; cursou a prestigiada Faculdade de Direito de São Paulo, era um intelectual
conhecido e ligado ao grupo político do presidente da República. Tanto que sua designação
para o cargo de promotor público no município de Areias, em 1907, deveu-se às boas
relações de seu avô, o Visconde de Tremembé, com Washington Luís, na época Secretário
de Justiça e Segurança Pública do Estado de São Paulo (ALMEIDA, 2005). A amizade entre
Lobato e Alarico da Silveira também era antiga, visto que o último foi frequentador da
redação da
Revista do Brasil,
e a boa relação estendia-se ao irmão, Valdomiro Silveira, que
também pertencia ao círculo de intelectuais da revista e teve seu primeiro livro de contos
editado por Monteiro Lobato em 1920. Antes disso, o autor de
Os Caboclos
publicou artigos
do seu editor num jornal que dirigiu na cidade de Santos. Assim, a afinidade com o projeto
político do presidente Washington Luís, manifestada até em artigos na imprensa, e a
presença do amigo Alarico, na chefia da Casa Civil do governo eleito em 1926, foram
decisivas para a indicação de Lobato ao Consulado. Cabe ressaltar que, no momento de
sua nomeação, enfrentava graves dificuldades financeiras em razão da falência de sua
editora e estava afastado dos debates literários. Portanto, a viagem aos Estados Unidos era
uma boa oportunidade para superar as dificuldades.
A atuação de Lobato no Itamaraty comporta semelhanças e diferenças em relação
ao trabalho de outros intelectuais que passaram pelo Ministério das Relações Exteriores.
Assim como outros escritores, Lobato rapidamente percebeu que o cargo no Consulado
poderia proporcionar condições favoráveis para projetos culturais, como a publicação de um
romance e a fundação de uma editora. E, ainda, esperava que, durante a estadia em Nova
York, conheceria outras pessoas, formaria novos círculos de amizade e relações que
poderiam abrir oportunidades. A diferença é que o autor das histórias do Sítio do Picapau
Amarelo não se limitou em conciliar atividades diplomáticas e literárias, foi além, e também
atuou no campo econômico, notadamente em empreendimentos siderúrgicos e petrolíferos.
As atribuições do adido comercial e os contatos com representantes da Ford
proporcionaram sua entrada no
big business
. A expectativa de alto lucro com o processo
Smith, e depois com o petróleo, aguçou seu interesse pelo mundo empresarial. Por outro
lado, Lobato entendia que tais iniciativas seriam decisivas para superar o
subdesenvolvimento do seu país e, consequentemente, transformar o Brasil em uma nação
tão moderna quanto os Estados Unidos.
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