Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 78

76 
Os “amadoristas” consideram às rendas produzidas pelo torneio a que
assistimos os últimos jogos, como um fracasso. Alguns chegaram a dizer
que à renda dos tempos do amadorismo eram melhor. As cifras não dizem
isso. O movimento da LCF foi superior a mil contos de reis, enquanto que o
da AMEA, em 1932, apenas alcançava a metade. Como se vê, não há
fracasso. (MAZZONI, 1950, p. 245).
Todos os clubes aumentaram a renda com o profissionalismo: o Fluminense quase
que triplicou sua receita no primeiro ano do profissionalismo; o Vasco da Gama, que sempre
figurou entre as equipes mais bem sucedidas financeiramente, conseguiu dobrá-la em 1933
e o Bangu teve os melhores resultados de sua história, o que se repetiu no campeonato
paulista (MAZZONI, 1950, p. 246).
As negociações entre as ligas profissionais e amadoras para formar o selecionado
não foram fáceis. Os times profissionais desconfiavam das ações da CBD e temiam que
seus jogadores ficassem no exterior, razão pela qual solicitavam garantias. Afinal, mais
importante que a vitória do Brasil era o investimento das equipes nos melhores jogadores.
Mais do que a discordância entre profissionais e amadores, a questão expressava as
próprias contradições do regime vigente. A antiga elite que dirigia o futebol brasileiro,
encabeçada por Arnaldo Guinle, presidente da CBD entre 1916 e 1920, perdia lugar para
membros que emergiram junto a Revolução de 1930, como Luís Aranha
2
e João Lyra Filho,
do Botafogo, que tinham influência junto à entidade dominante do futebol brasileiro
(DRUMONT, 2009).
O
Correio da Manhã
posicionava-se claramente contra o profissionalismo,
imputando-lhe a culpa pela dificuldade de se estabelecer a união no futebol brasileiro:
“Continuamos onde estávamos, dentro do nosso ponto de vista, coerentes com os nossos
princípios que são, por índole, contrários a mercantilização do esporte. Essa convicção
sincera que nos colocou em terreno oposto ao da maioria não se modificou [...].” (CRÔNICA,
1934b, p. 10). É importante ter presente que esse periódico havia apoiado a Revolução de
1930, mas seu proprietário desde o ano anterior, Paulo Bittencourt, defendeu a
reconstitucionalização, manifestou-se a favor do movimento de 1932 em São Paulo e,
mesmo com a convocação da Constituinte, acusou Vargas de manipular o processo político
para manter-se no poder. Já o jornalista Costa Rego, importante figura do matutino, não
poupava críticas ao governo. Irreverente, Costa Rego agradecia ao censor por ser seu leitor
assíduo (REGO..., 2010).
2
Luís Aranha era membro do governo provisório desde a Revolução de 1930, a princípio tornou-se secretário particular de seu
irmão, nomeado para o Ministério da Justiça e Negócios Interiores, e um dos fundadores do Clube 3 de Outubro. Em 1931,
tornou-se chefe de gabinete do Ministério da Justiça, funções que exerceu até 1934, ano em que chegou a ser convidado para
chefiar a Casa Civil da Presidência, cargo que não aceitou. Para mais informações sobre Luís Aranha ver: ABREU, Alzira Alves
et al. (dir.).
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós 1930
. Rio de Janeiro: FGV. Disponível em:
. Acesso em: 23 fev. 2014.
1...,68,69,70,71,72,73,74,75,76,77 79,80,81,82,83,84,85,86,87,88,...328
Powered by FlippingBook