Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 82

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atribuindo a culpa pela briga política aos profissionais, mas imputando a derrota brasileira a
fatores circunstanciais do jogo, tal como Lourival Fontes.
Apesar de a Copa chamar atenção do governo, a preocupação maior desse período
era com a situação política vigente, com a Constituição em elaboração e com o novo
período que se abria, tema frequente nos diários. A questão da eleição do novo presidente
era uma preocupação constante do grupo no poder, o que explica o esforço despendido
para assegurar a permanência de Vargas no Catete. A Copa atraiu a atenção apenas nos
meses que antecederam o seu início, enquanto a Constituinte era acompanhada e noticiada
diariamente durante todo o seu período de funcionamento. A liberdade de imprensa então
vigente dava aos jornais possibilidade de apontar erros e fazer críticas, como foi o caso,
sobretudo, de
O Estado de S. Paulo.
Tal situação mudaria drasticamente nos anos
seguintes.
Copa de 1938
Em 1938, o Brasil vivia outra conjuntura. No ano de 1937 foi instaurado o Estado
Novo, governo autoritário, cujo controle de Vargas sobre os meios de comunicação
conheceu novos patamares, o que também se observa em relação à política nacionalista,
isso num clima marcado pela ausência de partidos políticos e controle dos meios de
comunicações.
No futebol, as disputas entre profissionais e amadores estava findada, e o Brasil se
tornara, em 1937, vice-campeão Sul-americano, o que trouxe grande empolgação para o
país, mas o fato culminante foi a Copa do Mundo de 1938, que pela primeira vez foi
transimitida pelo rádio, permitindo que chegasse a regiões remotas do Brasil, e quem não
tinha o aparelho em casa poderia acompanhar em transmissões feitas em praças públicas,
entre outros locais. A seleção foi apropriada como fator de unidade, os jogadores modelos
físicos a serem seguidos, num momento em que a Educação Física era uma questão vista
como estratégica para a qualidade dos seus habitantes, do que dependia o futuro do país.
Os que regulamentaram o futebol tiveram na política e na cultura da época o modelo
insperador, uma metáfora do mundo social, que se articula aos interesses dos grupos que
as forjam (CHARTIER, 1990, p. 17).
O pavilhão nacional e a imagem de Getúlio Vargas, obrigatoriamente presente em
todos os prédios públicos, eram os símbolos mais difundidos no Estado Novo. Assim, as
propagandas do governo em torno da seleção nacional, as conclamações ao povo brasileiro
para torcer pelo Brasil, e o empenho para se formar um forte selecionado para ir à Europa,
foram intensamente difundidos na imprensa, que contribuiu para criar um clima de
expectativa em torno do evento.
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