Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 88

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havia ficado perfeitamente evidenciada e de todos era a certeza da vitória
no jogo desempate. Ora, por que motivo fatigar ainda mais Leônidas, expô-
lo a possíveis contusões, se estávamos nas vésperas da semifinal? (COM A
REALIZAÇÃO..., 1938, p. 12).
O jornal reconhecia que os jogadores do Brasil eram excepcionais e que o Brasil
chegou ao terceiro lugar por causa das qualidades individuais, mas o conjunto deixou a
desejar, pois faltou preparação com a antecedência necessária, a exemplo do que
aconteceu nos campeonatos anteriores. A indisciplina apontada pelo jornal é fator
interessante, já que, a todo o momento, Pimenta exaltava a disciplina de seus jogadores, o
que estava de acordo com a política varguista do Homem novo que, antes de tudo, deveria
ser disciplinado.
Ilustrativa foi a declaração do jogador Luizinho dada após o campeonato e que
ressaltava o fato da propaganda em torno da seleção brasileira não se basear em fatos
verídicos. A declaração expunha os limites da organização e a ineficiência da embaixada
quanto ao planejamento da viagem, e também ressaltou a indisciplina dos jogadores (apud
FRANZINI, 2003, p. 73).
Com base na leitura dos jornais da época, percebe-se que a seleção em 1938 não foi
tão melhor preparada assim. Ao que tudo indica, a maior vantagem foi poder convocar
qualquer jogador, o que não causou diferença substancial em relação aos selecionados
anteriores. Os jogadores não tinham o alto patriotismo alegado, não eram tão disciplinados e
não foram tão bem preparados.
A verdade é que a imprevisibilidade do futebol não permite que se atrelem derrotas a
um único fator. Como diria Mário Filho (apud FRANCO JUNIOR, 2008, p. 289) “no futebol o
milagre é quase cotidiano, a graça divina pode tocar qualquer um.” O Brasil fez uma bela
campanha em meios a jogos dificílimos, venceu seus adversários com dificuldade e seu
melhor jogo, como atestado, foi realizado com a equipe reserva, que praticamente formou a
seleção brasileira enquanto o futebol era amador. Neste contexto, pode-se afirmar que muito
mais que uma seleção superior a de 1934, se viu, em 1938, foi uma atenção e interesse
muito maiores, tanto da imprensa quanto do governo. O presidente da República, que tinha
como projeto a busca da harmonia social, a eliminação de conflitos e que se punha como o
líder de um povo que precisava ser moldado e que carecia de uma identidade nacional
definida, ideia compartilhada por grande parte da imprensa e da intelectualidade, o futebol,
esporte mais popular do país, foi um importante instrumento para evidenciar que a seleção,
representante da nação no exterior, tinha jogadores munidos das melhores qualidades,
como disciplina, vigor físico e mental, inteligência, e que nada devíamos para os grandes
países europeus. O Brasil foi derrotado em 1934 por lances fatídicos, como pênalti, gols
anulados, cansaço da viagem, o mesmo que aconteceu contra a Itália. Mas a preocupação
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