Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 95

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Os orientadores
Na década de 1970, o campo historiográfico universitário brasileiro encontrava-se
relativamente amadurecido em relação à profissionalização da pesquisa histórica. Havia
uma década que os pesquisadores conquistaram um lugar para dialogar –referimo-nos ao
papel aglutinador da Associação Nacional de Professores Universitários de História
(ANPUH) – e buscavam sofisticar o currículo universitário.
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Um dos objetivos da
regulamentação dos cursos de Pós-Graduação era dar impulso à capacitação docente.
Nessa esteira, para estruturar o seu programa de Pós-Graduação, o Departamento de
História (DEHIS) da UFPR apostou nos intercâmbios acadêmicos, investiu na vinda de
docentes à instituição e no envio de alunos e professores a centros no exterior, com clara
preferência pela capital francesa.
Assim, ao lado do interesse pessoal em aprofundar o domínio intelectual na
especialidade escolhida estava uma estratégia departamental. Os três “enviados” a Paris
retornariam com a marca do lugar, a
École des Hautes Études en Sciences Sociales
(EHESS)
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– como já dito, centro de referência da historiografia francesa.
O primeiro a partir foi Santos, em 1974 instalou-se com a família na Rue du Javelot.
No ano seguinte, as famílias Nadalin e Cardoso mudaram-se para o mesmo endereço e
então “a tour Athènes” transformou-se “em sub-séde do Dehis” (CARDOSO, Paris, 17 jan.
1977).
As cartas insinuam uma relação harmônica entre eles, no cruzamento da
correspondência nota-se o hábito de fazer breves relatos quanto ao bem-estar familiar e ao
estágio da pesquisa do outro. Para fraternizar um ambiente culturalmente estranho,
transformaram-se em uma família temporária, compartilhavam os obstáculos de aculturação,
as angústias da pesquisa, confraternizavam nas datas festivas e juntos faziam as viagens
de “
vacances
” (férias).
Esse ambiente de bom convívio pode ser estendido ao relacionamento com os
orientadores e suas famílias. Frédéric Mauro era o orientador de Santos, Nadalin e Cardoso
eram orientandos de Louis Henry. Os “
rendez-vous
” (encontros) entre eles foram narrados
com entusiasmo e em tom elogioso. Pode-se dizer que a cordialidade já havia sido plantada,
pois os orientadores cruzaram o Atlântico para lecionar no Mestrado em História da UFPR.
O politécnico Louis Henry foi o responsável pelo sucesso da demografia histórica
entre os historiadores que buscavam conhecer as populações do passado. (ROSENTAL,
2003, p. 103-136). Com a possibilidade de reconstituir famílias valendo-se dos registros
paroquiais, ele demonstrou que era possível quantificar os homens (DELACROIX; DOSSE;
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Cecília Westphalen ocupou um lugar na história da criação da ANPUH, esteve entre os fundadores e obteve cargo na
direção.
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A partir da VIª. Seção foi criada a
École des Hautes Études en Sciences Sociales
(EHESS), em 1975.
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