Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 103

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esconder, a verdade é que não confio na capacidade de um censor [...]” (NADALIN, Paris,
22 jun. 1977).
O historiador da partida não era o mesmo do retorno, junto com os livros trazia na
bagagem a experiência do cotidiano historiográfico francês. Mudanças também aconteceram
em seu país e em seu local de trabalho, o DEHIS. Nadalin e Cardoso, em suas últimas cartas,
expressaram o descontentamento em relação aos conflitos travados entre os professores do
departamento. No centro do grupo opositor à Westphalen e Balhana estava Carlos Roberto
Antunes dos Santos. O retorno dos ex-alunos de Paris parece ter provocado rupturas na
lógica de reprodução e conservação do grupo.
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Considerações finais
As cartas trabalhadas neste texto nos apresentam algumas situações
historiográficas. Seus autores, professores da UFPR, estavam inscritos na EPHE/EHESS,
lugar onde a história econômica e social era praticada com técnicas da estatística e da
demografia. A destinatária, Cecília Westphalen, filiando-se à história “analítica” francesa e à
noção de tempo braudeliana pretendia fazer do Programa de Pós-Graduação da UFPR um
polo de excelência dessa prática historiográfica. Assim, estrategicamente, contatos foram
articulados e uma rede de estudos formou-se no tráfego de Curitiba a Paris e vice-versa.
As cartas permitiram acompanhar o cotidiano de historiadores em formação. Ganhos
existiram, e obstáculos também, estes se centraram principalmente nas queixas quanto à
dureza da quantificação, da operação técnica de tratamento dos dados. As narrativas do
andamento das teses, sobretudo as de Nadalin e Cardoso, evidenciam a dificuldade em
equilibrar análise quantitativa e qualitativa num tempo acadêmico diminuto, sentido como
opressor. Todavia, a dedicação à metodologia da pesquisa aproxima os remetentes das
preocupações da destinatária. Para a “Professora Cecília”, era o trabalho com a metodologia
a marca de distinção do historiador de ofício.
Desse modo, perpassar essas três experiências acadêmicas de pesquisa, por meio
da correspondência, permitiu-nos compreender algumas das expectativas de Cecília
Westphalen em relação à produção do conhecimento histórico, bem como a configuração
que passará a ter o Programa de Pós-Graduação em História da UFPR.
Referências
ARTIÈRES, P. Arquivar a própria vida.
Estudos Históricos
, Rio de Janeiro, n. 21, p. 9-34,
1998.
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Segundo Pierre Bourdieu (2011, p. 115), “o capital universitário se obtém e se mantém por meio da ocupação de posições
que permitem dominar outras posições e seus ocupantes [...]”.
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