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O Cruzeiro
, 18 fev. 1939, p. 34
Na foto
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acima, um grupo de guerreiros indígenas é “flagrado” portando, além de
arcos e flechas, um estandarte em referência ao samba. Os tipos criados por esses foliões
jogam com a alteridade que a fantasia e a festa proporcionam. Com pouca roupa – a saia
que cobre o corpo desses foliões, feita de papel crepom, desmanchava com o banho de mar
– a fantasia de indígena abria metaforicamente para a possibilidade do desnudamento –
ainda que parcial, pois embaixo eles vestem shorts – durante os festejos.
Entre o real e o imaginado, entre o indígena romântico e o bárbaro, a fantasia em si
propõe a criação de um personagem, no caso, os protoguerreiros acima, com arcos e
flechas simbólicos, distantes da representação idílica da literatura do século XIX.
Os sentidos que o fantasiar-se (de indígena) abrange, além da configuração de outra
identidade, resvalam, também, segundo Zélia Lopes da Silva, na possibilidade de leitura dos
costumes desses foliões, seus modos de pensar, os desejos contidos pelo cotidiano e que
são extravasados no decorrer da folia. Considerando que alguns deles sinalizam para a
possibilidade de quebra da regra em uma sociedade marcada por convenções sociais
diversas, estabelecendo, portanto, um dos sentidos do carnaval (SILVA, 2008, p. 43-44).
Na esteira da busca dos sentidos que as festas produzem, se encontra o fato dessas
serem capazes de explicar o mundo na sua exceção, na fissura do cotidiano, na inversão e
quebra da ordem. Entendidas por teóricos como Mikhail Bakhtin como representações
culturais capazes de definir e dialogar com a sociedade que as promoveram, as festas vistas
em relação à dinâmica com o tempo presente, possuem um potencial significativo de
representação/ inversão da ordem e que ultrapassam a efemeridade do calendário que as
situa (BAKHTIN, 1993).
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Aqui assume-se a posição de que uma fotografia, além de ser um meio comunicacional relativo ao diálogo, é feita e está
repleta de escolhas, “todas essas escolhas, todas essas manipulações são a prova de que se constrói uma fotografia e,
portanto, sua significação” (JOLY, 1996, p. 128).