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Certamente, essas quase três décadas acima descritas mereceriam uma análise
pormenorizada, incorporando outros foliões e seus personagens. Ainda que os foliões
(e seus tipos) não abusassem do nu completo, esta era uma prerrogativa subjetiva tanto à
festa quanto às proibições que os cercavam. O carnaval, momento de extravasamento do
corpo e da libido, opera de forma propícia para dar vasão aos desejos que o cotidiano
encerra.
Fantasiar-se de tipos selvagens – supostamente livres das amarras que o cotidiano
social demarca –, e exóticos, do ponto de vista dos tipos comuns de saias longas e ternos
bem cortados do cotidiano carioca é, certamente, uma forma de dar vazão ao desejo
contido. Além de válvula de escape, a fantasia também operava como “homenagem” aos
primeiros habitantes do Brasil. Prestando-lhes certa cidadania, ainda que tardia e
particularizada, os “indígenas”, na História do carnaval, formam apenas um conjunto, entre
outros, de temas que envolvem a festa que se tornou um dos signos de Brasil.
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