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principais avenidas da cidade para brincar o carnaval, na década de 50 muitas pessoas
preferiam celebrar os festejos em seus próprios bairros e ruas” (MAZIERO, 2011, p. 54).
Essa descentralização do desfile e, sobretudo, a organização de formas de lazer
próprias, estão alocadas num contexto de industrialização e aumento exponencial da mão
de obra operária do Rio de Janeiro (QUEIROZ, 1987, p. 723). Com o setor industrial
empregando 171.643 assalariados (número quase três vezes maior em comparação com a
década 1920), o aumento da população, deflagrado pela grande massa de imigrantes em
busca dos serviços gerados pela indústria, saiu dos 2.337.451 habitantes, em 1950, para
3.307.163, em 1960. A elevada taxa de crescimento populacional, no entanto, não
acompanhou a oferta de trabalho, “[...] gerando a desvalorização do preço da força de
trabalho e o aumento da marginalização urbana” (MAZIERO, 2011, p. 24).
Esse cenário serve para situar os nossos foliões “indígenas”. Se nos bailes só
entrava quem podia pagar, e a fantasia de silvícola ainda não era das mais bem quistas, nas
ruas e praias o investimento financeiro era baixo e a liberdade maior para que os arcos, as
saias e as penas fossem incorporadas aos corpos, como das mulheres abaixo, que
decidiam se esbaldar com Momo.
Correio da Manhã, 08 fev.1964,
s.p.
Desfilando na Avenida Rio Branco, um dos principais redutos do carnaval popular
carioca, o trio vestia fantasias bem mais ornamentadas do que o grupo de homens
anteriormente analisado. Paradas pelo fotógrafo, todas de costas para a multidão que
avançava no sentido contrário, tentavam se arrumar para posar para a foto. Desajeitadas,
com grandes cocares de penas, cabaças, colares de miçangas e tecidos que remetiam ao
selvagem, como a tiara “de onça”, o trio encontrou na representação do índio selvagem o
melhor personagem para transformar-se naqueles dias de festa.