Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 113

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Exemplo evidente da conjuntura do período é a busca por um modelo nacional
refletido pelo samba e pelo carnaval. Marcos Napolitano e Maria Clara Wasserman, num
estudo feito com base, entre outras obras, no livro
Na roda do samba
(1933) de Francisco
Guimarães (articulista também conhecido como “Vagalume”), detectaram que ele:
Delimitava um lugar social para o samba que fosse, ao mesmo tempo,
garantia de uma marca estética indelével: o "morro" [...] como um território
mítico, lugar da “roda” onde se praticava o “verdadeiro” samba [...], A "roda
de samba" seria o lugar de uma fala musical coletiva, "pura", "espontânea",
onde a criatividade daquele grupo social que estaria na origem do samba,
era recolocada, quase como um rito de origem (NAPOLITANO;
WASSERMAN, 2000, p. 169-170).
O samba adentra de vez na imprensa do período. Recebe o
status
de “patrimônio
carioca”, por Orestes Barbosa (radialista do período), ao entender que a conjuração deste
veio não somente do morro, mas também de cada região do Rio de Janeiro e que o rádio
seria primordial para a propaganda no “novo” gênero. A entrada das escolas de samba na
questão do samba, e com elas todos os grupos das diversas localidades cariocas
catalisadas pelo rádio, requeria que esse processo fosse disciplinado, de modo que “o
popular e o nacional [se tornassem] categorias de afirmação cultural e ideológica por
excelência” (NAPOLITANO; WASSERMAN, 2000, p. 171).
Segundo os autores acima citados, o papel que o Estado Novo teve no período foi o
de equacionar a construção do projeto nacionalista – que tinha nas origens do “samba do
morro” a autenticidade necessária para tal – aliado ao controle das forças do mercado. Ao
tornar o samba um produto, o Estado Novo retirava dele sua “tradição purista, unívoca e
linear”. Portanto, “o samba era o ponto de encontro das audiências e seu reconhecimento
pelos intelectuais do Estado Novo, defensores da sua ‘domesticação’, representa o
reconhecimento das forças do mercado sobre os projetos estético-ideológicos da elite”
(NAPOLITANO; WASSERMAN, 2000, p. 179).
Os espaços partilhados por segmentos sociais distintos também devem ser atentados
para o reconhecimento dessa dinâmica ideológica social que resvala na organização dos
festejos.
Os estudos sobre os carnavais dos anos 1940 já sinalizam para uma
descentralização
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dos festejos, processo que se acentuaria na década de 1950 (BEZERRA,
2012). Nesse período, a vida festiva nos diversos bailes dos clubes esportivos e das
agremiações carnavalescas denotou uma modificação dos costumes dos foliões, até então
acostumados a dirigirem-se às ruas centrais da capital da República. Ellen Maziero demarca
que “[...] diferentemente do passado, em que todos os foliões precisavam se deslocar até as
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Cabe ressaltar que as décadas de 1930 e 1940 apresentam um redirecionamento constante das batalhas de confete
realizadas na Av. Rio Branco para as batalhas e bailes organizados nos bairros pelos próprios moradores.
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