Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 109

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Após o término do Estado Novo, os anos que se seguiram até 1964, ditos
“redemocratizantes”, promoveram uma intensa modificação nos festejos carnavalescos.
Querelas políticas tornaram as escolas de samba em campos de guerra; os locais
em que os folguedos ocorriam se pluralizaram – do centro às periferias, com ou sem
subvenção pública nas ruas, nos coretos ou nos bailes – e cresceram aos olhos do país e
da imprensa do período.
Envoltos num mercado consumidor que, impulsionado pelo aumento da mão de obra
alavancava a oferta de produtos culturais diversos – teatro, rádio, televisão –, o Rio de
Janeiro tornou-se, nas décadas de 1950 e 1960, um centro urbano moderno cada vez mais
imerso no capitalismo internacional.
A conjuntura acima abordada não ocorreu ao largo dos carnavais aqui estudados. Ao
contrário, a classe média e a alta passaram a frequentar os barracões das escolas de
samba, e a pagar para assistir aos seus desfiles – além de pagar para desfilar. Ademais, a
mudança no perfil desses foliões, as inovações alegóricas, impulsionadas pelo luxo e pela
mediação cultural com a Escola de Belas Artes, marcaram a entrada desses carnavais no
mercado do consumo da cultura (GUIMARÃES, 2009)
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.
Entretanto, não cabe entrar nos meandros dessas modificações, pois esse não é o
objetivo aqui pretendido. Cumpre agora voltar ao “indígena”, buscando as formas como esse
foi representado em carnavais anteriores. Não se trata de estabelecer um histórico
evolucionista dos carnavais dos últimos cem anos, mas sim de situar de que maneira essa
fantasia se incorporou nos costumes dos foliões dos carnavais que antecederam os anos
aqui abordados.
Negros fantasiados de índios, dançando e tocando músicas africanas, segundo
Eneida de Morais (1958, p. 120-121), ganhavam a cidade do Rio de Janeiro na segunda
metade do século XIX. Chamados de cucumbis, os negros trajavam círculos de penas em
volta dos pulsos, joelhos, braços e cintura, além de cocares, colares e corais de dentes,
objetos que remetiam, segundo o desfile desses foliões, ao universo indígena.
A presença constante de silvícolas entre as fantasias recorrentes no carnaval carioca,
bem como outras festas do Brasil e do mundo, advém de diversos fatores, entre eles, o fato
do carnaval popular homenagear personagens periféricos da sociedade brasileira e,
paradoxalmente, em razão do indígena habitar um território entre o popular e o erudito no
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Sobre a questão política envolvendo as escolas de samba ver Guimarães (2009). Quanto à diversificação das ofertas de
consumo da cultura “[...] o teatro, o cinema, o rádio, a televisão, o disco, a publicidade, as editoras, foram se estruturando como
indústria de massa ao longo dessa década [de 50] para finalmente atingir, nas décadas seguintes, a configuração de uma
indústria de bens culturais” (ABREU, 1996, p. 16). A vivência do que seria o moderno pode ser compreendido com Figueiredo
(1998). Por fim, no tocante às mudanças nas ornamentações e à mediação com a Escola de Belas Artes, ver Guimarães
(2006).
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