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tão inglório; para não dizer nulo. E a vontade de ‘se mandar’. [...] Veja, quis
escrever mais ‘leve’ e acabei relatando ‘desilusões’ de pesquisa. Mas, se
Deus quiser, tudo há de dar certo. (CARDOSO, Paris, 5 jun. 1977).
Foram muitos os relatos angustiantes sobre o andamento da tese, a pressão para o
aprendizado da técnica conflitou com o tempo para a análise qualitativa dos dados: “Eu juro
que é materialmente inconcebível vir fazer tese com tabulação ainda por ser feita, e em
seguida planejar, calcular, escrever, bolar, desenhar mapas, gráficos, quadro, e tudo isso
em um ano [...]” (CARDOSO, Paris, 21 dez. 1977).
Westphalen enviava palavras de incentivo, as quais, na resposta, ele sempre
agradecia. A palavra amiga era retribuída com favores. Os contatos que os remetentes
realizavam poderiam ser ótimas oportunidades para diálogos futuros, enriquecendo o círculo
de trocas acadêmicas. Nessa esteira, Cardoso foi o principal mensageiro de Westphalen, a
ele foi confiada a entrega dos presentes a Fernand Braudel e Adeline Daumard. Outra
“missão” foi levar cartas-convites a J.P-Berthe, Ladurie e à própria Daumard. Era intenção
de Westphalen que eles fossem a Curitiba.
As cartas de Cardoso são as mais amáveis. Ele despende maior tempo para com a
destinatária, quer saber “como ela está”, manda lembranças ao seu pai e ao se despedir
sempre recorda da “professora Altiva”. Aliás, algumas cartas têm, até mesmo, o destino
partilhado, são endereçadas às duas.
Sergio Odilon Nadalin
A rotina familiar é um ponto importante nas cartas de Sergio Odilon Nadalin. Os
problemas de adaptações dos dois filhos, a saúde constantemente atingida, a dor pelas
perdas familiares, a carência familiar da esposa, foram fatores que influíram diretamente em
seu cotidiano de doutorando. Em alguns momentos foi preciso interromper a análise dos
dados e intercalar a escrita entre o cuidado com a família. O tempo da família e o tempo
acadêmico nem sempre foram de fácil conciliação.
Fatores que contribuíram para o sentimento de estranhamento cultural: “Para ser
honesto, não posso dizer que cheguei a firmar os pés aqui neste país. Em todo o caso, sinto
que tudo isso me sacudiu profundamente” (NADALIN, Paris, 22 jun. 1977).
Nas cartas de Nadalin as dificuldades sobressaem-se aos ganhos. A demora na
resposta, por vezes, era associada à sensação de “estar na fossa”. E isso, em parte, em
razão dos problemas encontrados na compreensão das técnicas estatísticas que Louis
Henry empregava em seu seminário.
Tive, porém, a chance de lhe dizer que eu tenho uma certa dificuldade em
abstrair certas noções, em raciocinar em termos da técnicas que ele nos