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econômica e social (DELACROIX; DOSSE; GARCIA, 2012, p. 205-206). Braudel, Ernest
Labrousse, Pierre Chaunu, Ruggiero Romano, Frédéric Mauro, Louis Henry, entre outros,
estudando o passado em forte diálogo com a economia, a geografia, a demografia e a
estatística, representavam o que havia de mais elevado na historiografia francesa desse
período.
Imersa nessa atmosfera historiográfica e extasiada pela concepção braudeliana de
história, Westphalen não hesitou diante da orientação de Braudel: estudar temas brasileiros,
explorando o material que estava ao seu alcance (WESTPHALEN, 1985,
p. 33-42). Ela, então, iniciou seus estudos sobre a história econômica do Porto de
Paranaguá, compreendendo-o na estrutura de longa duração do Atlântico e do mundo
atlântico. Essa narrativa foi evocada por Westphalen em diversas circunstâncias e isso na
tentativa de demarcar a gênese do seu pensamento e a sua filiação historiográfica.
No retorno ao Brasil, em 1959, passa a divulgar e aplicar essa prática historiográfica.
Para tanto, em conjunto com Brasil Pinheiro Machado e Altiva Pilatti Balhana, promove
seminários de revisão da historiografia paranaense – escrita até então praticada
eminentemente por autodidatas –, formula planos de ação e implanta Projetos de Pesquisas
“objetivando reconstituir um quadro tanto quanto possível completo da sociedade e da
economia paranaenses” (BALHANA, 1983, p. 12). Os projetos que obtiveram maior
destaque foram: Levantamento e Arrolamento de Arquivos; História Demográfica no Paraná;
e Quantificação das atividades econômicas paranaenses nos séculos XIX e XX.
Carlos Roberto Antunes dos Santos, Sergio Odilon Nadalin e Jayme Antônio
Cardoso, tanto como alunos quanto como docentes, atuaram nesses projetos e, valendo-se
dessas experiências, escolheram seus temas de estudo. Com a disciplinarização que a
Reforma Universitária de 1968 impôs aos cursos de Pós-Graduação, na década posterior
surgiram os níveis de Mestrado e Doutorado. A UFPR, logo em 1972, iniciou o Mestrado
com duas áreas de concentração, História Econômica e História Demográfica. Orientado por
Westphalen, Santos, estudando o preço dos escravos a partir das escrituras de compra e
venda (1861-1887), optou pela História Econômica. Nadalin escolheu explorar registros de
casamentos de uma comunidade luterana em Curitiba (1870-1969), e Cardoso incursionou
pelo perfil da população votante dessa cidade (1853-1881). Estes dois inseriram-se na
História Demográfica e foram orientados por Balhana, companheira intelectual de
Westphalen.
Eles, então, iniciaram no ofício por uma linha de compreensão francesa de se fazer
história econômica e social e foi por meio dos contatos mobilizados pela “Prezada
Professora Cecília” – código de tratamento que demarca a relação entre eles – que os três
fizeram o voo Curitiba/Paris.