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acordarão a concessão do D.E.A. ou submeterão, de imediato, o candidato
a uma entrevista, para a decisão final. (CARDOSO, Paris, 23 mar. 1976).
O nível de exigência para essa primeira etapa tomou de assalto os três, a reprovação
significaria atraso, retardo no tempo. Cardoso e Nadalin, no primeiro ano, frequentaram os
mesmos seminários e em suas cartas externaram um forte descontentamento quanto a essa
estrutura. Também relataram a dose de pressão diária recebida pelos próprios professores:
“estão com um ‘arzinho’ de que vão mostrar a todos que a coisa é para valer, nas nossas
costas” (CARDOSO, Paris, 12 dez. 1975).
Os exames finais para o DEA foram vistos como tortura psicológica. Com o tempo
voltado para as disciplinas, pouco dele sobrava para a tese. De acordo com Santos, “[...]
fazer cursos e tese de Doutoramento, tudo isso, no prazo de dois anos é, no mínimo, de
deixar os franceses admirados (como sempre ficam, em face disso!)” (SANTOS, Paris, 16
jun. 1976).
O tempo, ou melhor, a sua falta, passou a ter lugar em todas as cartas, ele foi
evocado para justificar as ações que tomavam em relação aos trabalhos dos seminários e o
prosseguimento da tese. O tempo impelia as decisões, as mudanças de planos, os cortes, a
não realização. O tempo – o acadêmico – recebeu uma conotação ruim, estava associado à
dificuldade.
Cecília Westphalen foi o porto onde desaguaram os interesses, as dificuldades e se
buscou auxílio. As cartas, que variam de 4 a 11 páginas, narraram todas as fases da
pesquisa. Ao escreverem, eles faziam o exercício de organização das tarefas a serem
executadas. Listavam as leituras realizadas e as que estavam por fazer, procuravam
identificar as deficiências e as lacunas da documentação, com pormenores exprimiam a
metodologia empregada e as etapas da redação da tese. Dentro desses relatos, pediam
indicações bibliográficas e envio de fontes.
Ao colocarem Westphalen a par das atividades de pesquisa, esperavam a sua
avaliação, até mesmo
insights
, que porventura os problemas postos nas cartas pudessem
suscitar. Convém, então, explorar essas relações com base nas impressões particulares dos
remetentes.
Carlos Roberto Antunes dos Santos
Carlos Roberto Antunes dos Santos parece ter enfrentado rapidamente os desafios
da aculturação, as cartas indicam que, até certo ponto, conseguiu conciliar a realização do
DEA, a escrita da tese e a participação em eventos acadêmicos.