Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 93

91 
pois, com as palavras criamos imagens, numa narrativa repleta de gestos, sentimentos,
lacunas e silêncios (PEREIRA; FELIPPE, 2008, p. 488).
A destinatária, Cecília Westphalen, construiu sua carreira profissional na UFPR. Em
1950, tornou-se bacharel e licenciada em Geografia e História e, no ano seguinte, já
integrava o corpo docente da referida universidade, como assistente de ensino. Foram anos
de ritmo intenso, já que concomitantemente cursava Direito na instituição e lecionava no
ensino secundário.
Direcionando-se progressivamente à História, ela buscou conhecer sociedades de
historiadores com caráter universitário, o que não existia no meio brasileiro. Foi assim que,
numa atitude que denota sua vontade de explorar outras possibilidades historiográficas, se
associou às seguintes instituições: American Historical Association (1954); The Historical
Association (1955); Société Marc Bloch (1955); e Société d’Histoire Moderne (1958). Esse
desejo se concretizaria após a sua aprovação no concurso de cátedra para História
Moderna e Contemporânea, quando defendeu a tese
Carlos V, 1500/1558: seu império
universal
(1957).
Em 1958, a tese é impressa em forma de livro e Westphalen imediatamente
providencia a sua circulação, criando um nicho de leitores ideais. A obra é enviada às
associações citadas e a instituições estrangeiras de ensino e pesquisa. Em resposta ao
presente oferecido, ela recebia promessas de resenhas ou notas bibliográficas (VENANCIO,
2001, p. 23-47). Fernand Braudel, especialista do século XVI, agradeceu prometendo
providenciar uma resenha na revista
Annales
e
dizendo que faria uma leitura atenta do
texto, pois Carlos V seria objeto de estudo em seu Seminário no Collège de France
(BRAUDEL, Paris, 28 mar. 1955). Carlos V ocuparia tal espaço no seminário não só por ser
um personagem relevante do século XVI, mas também por ocasião das comemorações do
IV centenário de morte do imperador.
Carlos V foi o objeto certo no momento certo. Tornando-se a única brasileira
especialista do monarca espanhol, nesse período europeu de comemorações, Westphalen
participou dos congressos sobre Carlos V realizados em Madri e em Colônia (Alemanha
Ocidental). Esses eventos foram oportunidades essenciais de fala, de se fazer conhecer
pelo trabalho intelectual e, assim, construir redes de contato (OFFENSTADT, 2010, p. 86-
91). Essa engenharia das relações sociais lhe assegurou bolsa de estudo para as
especializações na Universidade de Colônia
3
e na VIª. Seção da
École Pratique des Hautes
Études
(EPHE), em Paris.
Foi nesse momento que houve uma inflexão em seus planos de pesquisa. Na EPHE,
Westphalen frequentou o Seminário de Fernand Braudel e tomou contato com as pesquisas
desenvolvidas no
Centre de Recherches Historiques
(CRH),
lócus
de produção da história
3
Na ocasião frequentou os Seminários de Theodor Schieder e Richard Konetzke.
1...,83,84,85,86,87,88,89,90,91,92 94,95,96,97,98,99,100,101,102,103,...328
Powered by FlippingBook