Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 98

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Pelo cotidiano relatado nas cartas, podemos supor que frequentou os Seminários de
Frédéric Mauro, Emmanuel Le Roy Ladurie, Jacques Bertin e Fernand Braudel (SANTOS,
Paris, 23 nov. 1975).
Mauro, investigador da História Econômica do Brasil, despertava em seu seminário a
atração de pesquisadores brasileiros. Ciro Cardoso e Nilo Odália foram alguns que por lá
circularam. No seminário de Braudel, muitos pesquisadores foram convidados para fazer
exposés
. Santos pôde ouvir as pesquisas de Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado,
Pierre Vilar, Immanuel Wallerstein, Gunder Frank, Maurice Aymard, Hermann Kellenberz
(SANTOS, Paris, 16 jun. 1976).
As memórias do seminário de Jacques Bertin remetem ao trabalho desenvolvido no
Laboratoire de Cartographie
. Com ele aprendeu os pressupostos da Semiologia Gráfica.
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Nesse seminário, Santos aprendeu a técnica do Fichário-Imagem (FI) e passou a
explorá-la para tratamento gráfico dos dados relativos ao mercado de escravos no Paraná.
Empolgado escreveu,
[...] existe uma nova metodologia para estudar o preço do escravo, isto é,
tomando por base o período, local, condição física do escravo, estado civil,
sexo, idade de origem, preço unitário e profissão. Isso é uma afirmativa
também da Mª. Luiza Marcílio, M. Buescu, e mesmo da New Economic
History, e de outros. [...] Com a técnica do Fichário de Imagem é possível
fazer diversas manipulações com as diversas variáveis. (SANTOS, Paris, 7
jan. 1976).
Tomado pelo trabalho, ele saia de casa apenas para ir ao
Laboratoire
,
seu cotidiano
estava entrelaçado às manipulações das 1004 fichas elaboradas com base em 1004 atos de
compra e venda de escravos.
Esse foi o tema predominante de grande parte de suas cartas e isso porque a
interlocutora poderia lhe ajudar diretamente na leitura dos FI. Em 1970, Westphalen
frequentou o
Laboratoire
e, desde então, passou a fazer análises quantitativas do
movimento do Porto de Paranaguá (fichário-imagem, leques de curvas) explorando o
tratamento gráfico da informação
à la
Bertin.
Braudel foi recorrentemente lembrado nas cartas, Santos sabia do interesse que
Westphalen nutria quanto aos ensinamentos desse professor e quis informá-la de suas
impressões sobre a postura de Braudel em relação ao campo historiográfico. Segundo ele,
Braudel havia mudado um pouco: “Suas definições de capitalismo, liberdade, críticas quanto
historiadores contemporâneos, e suas constantes aberturas de caráter metodológico, etc.
mostram uma preocupação em atualizar-se”. Ele aceitava em seus cursos “a contribuição de
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Bertin “foi o primeiro a lançar as bases de uma estrutura da linguagem gráfica, oferecendo teoria e instrumentos que
revolucionaram a construção de gráficos e o tratamento gráfico de dados, a partir da linguagem visual”. (CARDOSO,
Disponível em: <
. Acesso em: 14 abr. 2014). Cf. BONIN, nov.
2000. Disponível em: <
>
. Acesso em: 21 jun. 2013.
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