Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 73

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se estivéssemos no mesmo local” – principalmente no que diz respeito ao empreendimento
siderúrgico e americanismo. Além disso, atestam que a missão de Bulcão no Brasil era
conseguir o apoio do governo federal para o empreendimento e levantar o capital necessário
junto aos investidores nacionais. Nas missivas, o sócio de Lobato informou sobre encontros
com políticos importantes, como o ministro Victor Konder e o presidente Washington Luis, e
sobre alguns desentendimentos. O principal teria acorrido com o senador Paulo Frontin, de
acordo com Bulcão, o mesmo deveria ser afastado do negócio por ser antiamericano e
preocupar-se apenas com seus interesses políticos. Há também menção a possíveis
investidores que se destacavam no meio empresarial, como Henrique Lage, Guilherme
Guinle, Navarro de Andrade e Paulo Prado. Bulcão também revelou a Lobato o medo de
que Percival Farquhar atrapalhasse a concretização do negócio. Desde o início da década
de 1920 o empreendedor norte-americano tentava viabilizar a construção de uma usina
siderúrgica integrada e a exportação de grande quantidade de minério de ferro de Minas
Gerais. Assim, Farquhar também estava em busca de apoio político e investidores para
seus empreendimentos e os missivistas temiam a concorrência por capitais. Outra
preocupação era com a descrição, que deveriam pautar as transações para impedir críticas
ao processo Smith, especulações e sabotagens. Portanto, assim como Lobato, Bulcão
também evitava conceder declarações à imprensa.
De acordo com a correspondência, apesar dos esforços, Bulcão não conseguiu
cumprir sua missão no Rio de Janeiro e Lobato também não se saiu bem no esforço para
concretizar a fundação da nova companhia siderúrgica. Apesar disso, o ânimo dos
missivistas não se abateu durante o ano de 1928. Tanto que em dezembro formalizaram em
contrato com a General Reduction Corporation a exclusividade de uso do processo Smith no
Brasil e, ainda, ao longo do ano que estava terminando, traçaram um claro plano de
negócios. Esse plano, como destacamos, caracterizava-se pela criação de uma empresa
privada brasileira, formada com o capital de grandes investidores nacionais, apoiada pelo
governo federal (que facilitaria empréstimos e concederia incentivo fiscal) e comandada
pelos dois idealizadores do empreendimento. A estratégia para tanto, consistia em evitar
polêmicas na imprensa e agir com descrição no trabalho de convencer líderes do governo e
empresários da viabilidade do negócio, potencial de lucro e benefícios para o
desenvolvimento brasileiro. Cabe ressaltar que, durante esse esforço de convencimento,
Lobato recorreu de forma sistemática ao ato de redigir cartas. Estas atestam a expectativa
frustrada do escritor de contar com o capital estrangeiro, especialmente o norte-americano,
na constituição da nova empresa. Aliás, as dificuldades que enfrentou nos anos de 1929 e
1930 levariam o escritor a novamente reformular seus planos. Essas reformulações, a
fundação da empresa siderúrgica em 1931 e o fracasso do empreendimento serão
abordados em outra oportunidade.
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