Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 65

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Henry Ford foi representado como exemplo a ser seguido por suas realizações e ideias a
propósito da racionalização e eficiência do processo produtivo.
Monteiro Lobato chegou nos Estados Unidos em 7 de junho de 1927 e suas
expectativas foram largamente superadas, pois a cidade era maior do que imaginava e
muito diferente do Brasil. Ele se esforça em compartilhar sua surpresa com os destinatários
de suas cartas
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, recorrendo aos números afirma que os turistas norte-americanos gastaram,
com passagens para a Europa, 3.600.000 dólares. Apresenta cifras para demonstrar que o
orçamento anual da prefeitura de Nova York ou o valor dos imóveis em Wall Street é
superior ao orçamento do Estado brasileiro. Entusiasmado, assinalava que a cidade possuía
mais de 800 teatros e outras centenas de cinemas, além de se admirar com os milhares de
automóveis que circulavam pelo país, sem esquecer, o impressionante montante de
estudantes universitários e o acervo gigantesco das grandes bibliotecas.
Os Estados Unidos de Monteiro Lobato, grandioso e moderno, também era rico,
como fez questão de afirmar ao cunhado, Heitor de Morais: “Sente-se em tudo a riqueza
espantosa do país. Não há pobres, o pobre daqui equivale ao remediado daí” (LOBATO,
1970, p. 104)
.
Nos escritos de Lobato, tal riqueza era associada aos elevados salários, que
proporcionavam aos americanos acesso ao consumo. Na visão fascinada de Lobato, todos
tinham carros, rádios e outros produtos que tornavam a vida mais fácil. A população lotava
restaurantes, magazines, teatros e hotéis e, consequentemente, não existiria miséria na
América de Lobato. Dessa maneira, os norte-americanos teriam superado as contradições e
construído uma nova civilização, tão superior às anteriores que até as mulheres
conquistaram liberdade para integrar o mercado de trabalho e participar da política.
Na correspondência lobatiana deste período, o Brasil é representado como o
oposto dos Estados Unidos: pobre, atrasado e indolente. Já a Europa era vista como
decadente e, portanto, os brasileiros deveriam ignorar os paradigmas de civilização do
Velho Continente e se inspirar no
america way of life
. Apesar do pessimismo, Lobato
acreditava que, para superar os problemas de sua terra natal, era necessário seguir o
exemplo norte-americano. Por isso, convidava seus destinatários a visitarem a “América” e
defendia a aproximação política e econômica com os Estados Unidos.
Nas missivas, Lobato apresentava-se como o adido comercial que tinha em mira
facilitar o intercâmbio de mercadorias e serviços entre os dois países, mas também como
um empreendedor, homem de negócios e capaz de imaginar oportunidades milionárias. Nas
cartas de 1927, a intensidade dessas representações varia de acordo com o momento, o
destinatário e os seus interesses. De qualquer forma, percebemos que Lobato sempre
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Ver cartas dirigidas a Heitor de Morais (LOBATO, 1970, p. 104-105), Godofredo Rangel (LOBATO, 1969, t. 2, p. 301-305),
Candido Fontoura e Artur Neiva (TIN, 2007, p. 320-321, 468-470) escritas entre junho e setembro de 1927.
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