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em busca de capitais para concretizar o empreendimento. Nessa época conheceu Monteiro
Lobato, que lhe falou de um novo processo siderúrgico e o apresentou a seu criador, William
Smith. Bulcão entusiasmou-se com as possibilidades do negócio, por acreditar que o
método em desenvolvimento era perfeitamente adequado às condições brasileiras, e
resolveu implantá-lo no Brasil. Dessa forma, nasceu a parceria entre Lobato e Bulcão, que
resultou da formulação de um claro e definido projeto siderúrgico para o país.
Em duas cartas destinadas a Alarico Silveira
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, Lobato explicou seus planos. Na
primeira, comunicou que estava de partida para Detroit, em companhia de Fortunato Bulcão,
com o intuito de conhecer a fábrica da Ford e as pesquisas de William Smith. Também
revelou que estava na expectativa de que o investidor brasileiro e o engenheiro norte-
americano se associariam para fundar uma empresa, com capital inicial milionário,
destinada a implantar no Brasil o novo processo siderúrgico. De acordo com o adido
comercial, as negociações seriam concluídas lá, comprometeu-se em relatar ao chefe da
Casa Civil o resultado da viajem e solicitou sigilo sobre o negócio. Na missiva, o processo
Smith é considerado revolucionário e inovador, por exigir um investimento inicial menor,
dispensar o uso de carvão mineral e coque e ser mais eficiente do que os tradicionais
métodos de produção de ferro gusa. Bulcão foi representado como um engenheiro
especializado em metalurgia e um empreendedor inteligente, capaz e determinado. Lobato
apresentou-se como um intermediário do negócio, ressaltou o fato de ter apresentado
Bulcão a Smith e não demonstrou interesse em se associar à futura companhia.
Na segunda epístola, Lobato (1970, p. 123-132) apresentou a Alarico os resultados
da viajem, seu entusiasmo é patente desde a primeira linha, quando adverte: “Prepare-se
para ler a carta mais importante que ainda foi escrita daqui para aí. Acabo de chegar de
Detroit e vou atamanca-la a tempo de pegar a mala de amanhã”. Em seguida, fez uma
análise econômica e social do Brasil, afirmava que nosso principal problema era a miséria e
para superá-la precisaríamos produzir ferro e aço em grande quantidade, pois a
consolidação do setor siderúrgico permitiria o crescimento industrial. O escritor acreditava
que a industrialização proporcionaria desenvolvimento econômico-social, caracterizado por
bem-estar e qualidade de vida, e destaque ao nosso país no cenário internacional. Assim,
argumentava que a influência geopolítica e modernização da Inglaterra, França, Alemanha e
Estados Unidos resultaram das fábricas e, consequentemente, do ferro que possuíam. O
Brasil era o oposto daquelas nações, não produzia e por isso importava manufaturas, e
mesmo com grandes reservas de minério de ferro em seu território era incapaz de construir
siderúrgicas. O adido comercial acreditou que o problema não tinha solução e, por isso,
estávamos condenados ao atraso. No entanto, mudou de opinião ao conhecer o processo
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Cartas de Lobato (1970) a Alarico Silveira, datadas, respectivamente, 26 de abril (p.121-122) e 3 de maio de 1928 (p. 123-
132). Ainda de acordo com essas missivas o escritor esteve em Detroit entre os dias 27 de abril e 2 de maio de 1928.