Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 67

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na condição de investidor, ou seja, pouco se pode afirmar a propósito da função do Estado e
da iniciativa privada no desenvolvimento do processo Smith. Apesar das hesitações, Lobato
não perdeu o entusiasmo pelo mundo dos negócios e nem a esperança de enriquecer: “Vou
ganhar tanto dólar nesta terra que até... O diabo é que ainda não ganhei nem um. A falta de
falar o inglês tem me atrasado muitíssimo, nem calculas. Mas ha de ir assim mesmo, porque
não desisto de ter um arranha-céu em Manhattan.” (LOBATO, 1970, p. 111, carta de Lobato
a Heitor de Morais de 26 de outubro de 1927). Por fim, cabe ressaltar que, além do negócio
do ferro, Lobato auxiliava e aconselhava o amigo Candido Fontoura em ações de promoção
do Biotônico Fontoura no Brasil e Estados Unidos
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.
Se, para os amigos e familiares, o que se destacava na correspondência era o
empreendedor, o homem de negócios que estava prestes a enriquecer, nas missivas
destinadas a Alarico Silveira, amigo e chefe do gabinete da presidência da República, o que
chama a atenção é o adido comercial, representado como o trabalhador esforçado e
preocupado com o desenvolvimento do seu país.
A primeira carta destinada a Alarico data de 11 de agosto de 1927. Nela Lobato
(1970, p. 106) afirma que está adaptado ao novo país e trabalhando no Consulado.
Comunicou o envio de relatório ao Ministro das Relações Exteriores, Otávio Mangabeira,
sugerindo a instalação de mostruário de produtos brasileiros em Nova York, com vistas a
aumentar nossas exportações para os Estados Unidos. Em outras duas missivas, datadas
de 19 de setembro e 9 de novembro, Lobato (1970, p. 109-113) sugeriu ao governo instituir
programa de bolsas para jovens brasileiros estudarem em universidades norte-americanas,
criticou a morosidade do governo federal em atender seus pedidos de informação e auxílio
e, por fim, reafirmou sua crença de que os Estados Unidos tornar-se-iam um grande império.
Defendeu a ideia de que nossa diplomacia deveria trabalhar para fazer do Brasil um dos
principais parceiros político e econômico dos norte-americanos. Vê-se, portanto, que Lobato
não tratou da questão do ferro nem de seus projetos pessoais nessas primeiras missivas
remetidas a Alarico. Pelo contrário, forneceu sugestões para incrementar as relações entre o
Brasil e os Estados Unidos.
No que respeita ao ingresso de Monteiro Lobato no Itamaraty, foram respeitados os
padrões da época. A história institucional do Ministério das Relações Exteriores indica que,
até a primeira metade do século XX, o órgão foi um importante polo de atração de
intelectuais. A presença deles é registrada desde os primeiros anos do Império e
intensificou-se a partir da gestão do Barão do Rio Branco, já na República, o que se deve à
natureza da atividade diplomática e consular na Primeira República, que não estava
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Na correspondência de Lobato com Fontoura destaca-se duas iniciativas que não se concretizaram: a comercialização do
Biotônico nos Estados Unidos e a produção de um filme sobre o Jeca Tatu para promover o fortificante no Brasil. Os dois
assuntos aparecem em sete cartas escritas entre os meses de agosto e dezembro de 1927 (TIN, 2007, p. 321-361).
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