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Mestre Raimundo Cardoso em frente ao forno a lenha com suas peças recém-queimadas, década de 1990.
Fonte: (DALGLISH, 1996, p. 39)
Para muitos povos, incluindo os indígenas da Amazônia, esta etapa do processo
cerâmico era um ritual, com algumas restrições a serem seguidas, caso contrário, poderiam
ocorrer quebras e rachaduras nas peças, comprometendo toda a produção. Alguns casos a
serem citados são as queimas feitas somente por mulheres, as quais não podiam estar
menstruadas. Ainda, a queima ocorrer longe da presença de pessoas estranhas e diante da
lua na fase apropriada para se alcançar um bom resultado (DALGLISH, 1996, p. 11). As
peças eram queimadas lentamente, a céu aberto, como em uma fogueira feita de gravetos e
cascas de árvores.
Mestre Cardoso procurava reproduzir todos os processos, mas haviam algumas
exceções como a modelagem com uso de torno e a queima em forno a lenha. A queima
descrita, de fogueira, não alcança uma temperatura muito elevada, já a realizada em forno a
lenha, como utilizada pelo Mestre, atinge uma temperatura mais alta, fator que possibilita
maior resistência às peças. O forno a lenha de Raimundo Cardoso foi construído junto ao
terreno de sua casa, era geralmente ativado à noite e a queima das peças durava
aproximadamente 8 horas, chegando a atingir 800º C.
Os métodos de produção e queima de Mestre Cardoso eram compartilhados com
sua esposa, Inês Cardoso e com seu filho, Levy Cardoso, ambos continuam até os dias
atuais produzindo réplicas, assim como vários outros ceramistas de Icoaraci que traduzem
nas suas peças a riqueza da cultura local. Cultura essa que é preservada ao mesmo tempo
que se adapta à sociedade atual, reafirmando aspectos de uma identidade regional.