Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 43

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as raízes e com base nelas, se construir o novo em um processo contínuo de resgate,
pesquisa e desenvolvimento.
Mestre Raimundo Cardoso – Preservando Tradições
Raimundo Saraiva Cardoso, conhecido com Mestre Cardoso, atualmente é
considerado um importante pesquisador e ceramista da cultura amazônica. Trouxe das
origens de sua região, o Pará, e de sua família, a inspiração para suas criações e estudos
em cerâmica. Sua produção pode ser considerada um retrato do resgate das tradições
locais.
Mestre Cardoso teve o seu primeiro contato com o barro ainda criança, por influência
de sua mãe, uma experiente ceramista, descendente direta do povo Aruã
2
. Mantendo os
costumes, ela produzia suas panelas, potes e pratos seguindo os mesmos métodos usados
pelos povos indígenas, desde a retirada do barro, cuidados relacionados com a preparação
da argila, modelagem, preparação e uso dos engobes
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, processos de queima. O ceramista
cresceu em meio a tradições, mas foi após uma visita ao Museu Paraense Emílio Goeldi, na
década de 1960, que sua vida tomaria novas direções.
O Mestre possuía contato com a cerâmica desde a infância, vivia em uma região
com fartura de matéria-prima – fator que justifica a milenar produção desta técnica.
Entretanto, foi o contato com as cerâmicas marajoaras e tapajônicas do Museu Goeldi que
lhe despertou novos interesses. Raimundo Cardoso abandonou seu trabalho no comércio,
se mudou para o Distrito de Belém, Icoaraci, para então se dedicar somente à cerâmica.
Retornou diversas vezes ao Museu para a análise dos exemplares originais presentes no
acervo, passou a estudar bibliografias específicas, a fim de aprofundar seus conhecimentos
e, até mesmo, buscar na floresta Amazônica pigmentos naturais semelhantes aos
inicialmente usados para o acabamento das cerâmicas.
Esta busca por conhecimentos, materiais e entendimento profundo das técnicas
fizeram com que as peças de Mestre Cardoso fossem se tornando, em muitos casos,
idênticas às originais, mantendo nestas até mesmo rachaduras, marcas e sinais de
desgaste. Sua produção era o resultado de uma somatória de saberes: os ensinamentos de
sua mãe que reproduziam os métodos tradicionais da produção indígena, a pesquisa e o
resgate da cultura regional e um talento específico para trabalhar com o barro.
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Fase Aruã abrange de 1350 a 1820 d.C., período posterior à Fase Marajoara.
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Engobes são corantes naturais fabricados a partir da mistura de terra com água e aplicados na argila antes do processo de
queima.
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