Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 36

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carro coto, nambi, sem cavalo, sem zarrêio, sem tirante, desses carro qui
chama, cum peldão da palavra, tumóvi; é pinhano di veldadi, qui toca só
c’os pé du tocadô, vae mais adiante agente topa cuns grito, umas cauturia,
umas versaiada, u diabo! Qui dá de sahi de umas caxetas, qui trais a mó qui
uma corneta, i a mó que uma rodela qui fala. Esse não si astrevo di dizê u
nomi, é... neim sei mêmo! ... a mó qui fonógrifo. (FIGUERA, 22 jan. 1916,
não paginado
).
Um recurso muito utilizado pelas cartas caipiras de
O Pirralho
, aliás, por toda a
imprensa do período, foi o emprego de pseudônimos. Além das cartas que foram escritas e
assinadas por Cornélio Pires, encontramos um total de nove pseudônimos ao longo da
circulação da revista. Com exceção da
Correspondência da Xiririca
que recebia três
pseudônimos distintos (Fidêncio da Costa, Bernardino Lope e Pompeo Amará), as cartas
eram assinadas por um mesmo nome. Não é possível identificar o nome dos verdadeiros
autores em todos os casos. De fato, sabemos que Cornélio Pires foi autor de grande parte
das cartas e que se utilizou de pseudônimos com muita frequência, já que apenas alguns
textos foram assinados com seu próprio nome. Os dois pseudônimos do autor que mais
apareceram no periódico foram: Fidêncio José da Costa e Vadosinho Cambará.
11
Cornélio Pires foi autor de diversas cartas em dialeto caipira espalhadas pelos
periódicos paulistanos. Nasceu na cidade de Tietê, interior de São Paulo, no dia 13 de julho
de 1884. Foi escritor, compositor, conferencista, jornalista, contador de “causos”, poeta e
folclorista. Como escritor de contos, prosas e poesias, publicou, no total, vinte e dois livros,
além de produzir músicas, narrativas caipiras, filmes e realizar apresentações humorísticas,
principalmente públicas, chamadas de cafés, concerto ou shows humorísticos. Cornélio
Pires colaborou em diversos jornais e revistas com textos caipiras e muitos deles em
formato de cartas. Sua maior produção encontra-se em
O Pirralho
, mas podemos encontrar
seus textos em outros periódicos da época, tais como
A Farpa
,
O Sacy
,
A Cigarra
,
A
Gargalhada
e
O Malho
.
Embora o intuito não seja investigar minunciosamente cada pseudônimo encontrado
nas cartas de
O Pirralho
, é interessante refletir sobre sua utilização, tendo em vista que se
tratava de um costume da imprensa no período. Podemos refletir sobre os motivos que
levaram os escritores a utilizar nomes fictícios. Em primeira instância, há que se pensar que
havia uma espécie de censura ou de cerceamento da palavra na época. Ainda que a
censura formal não estivesse organizada, a irreverência nunca fora bem vista. Não é a toa
que um dos segmentos que melhor se especializou na crítica ao governo foi à revista de
11 Sabemos que o pseudônimo Fidêncio da Costa pertencia a Cornélio Pires em virtude da publicação de
O Pirralho
confirmando sua autoria em Cartas de um caipira na edição nº 50. Quanto ao pseudônimo Vadosinho Cambará, baseamo-nos
no estudo de Arlete Fonseca de Andrade. Ver: ANDRADE, Arlete Fonseca. Cornélio Pires: tradição e modernidade na cultura
paulista. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, XIV., 2013, São Paulo.
Anais do XVI Congresso Brasileiro de
Sociologia
. São Paulo: PUC, 2013.
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