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se-lhes apenas lotes dentro delas; revertem-se as áreas restantes ao
Império e depois às províncias, que as repassam aos municípios para que
as vendam aos foreiros ou as utilizem para a criação de novos centros de
população. Cada passo é uma pequena burla, e o produto final, resultante
desses passos mesquinhos, é uma expropriação total. (CUNHA, 2012, p.
81-82).
Fica claro, assim, como a representação do índio na construção da memória nacional
brasileira se constitui como um exemplo expressivo dos conflitos, silêncios e esquecimentos
presentes no processo de construção da nação. Embora Peri e Iracema sejam glorificados
por meio de uma imagem majestosa, eles pertencem ao passado e tem sua cultura em
estado de ruína, necessitando abdicar dela para poder integrar-se à nova nação que estava
se constituindo. Por um lado, os índios são reconhecidos como personagens do passado;
por outro, é ignorada e silenciada sua atuação no presente.
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