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uma estrutura na qual as identidades dos estados poderiam facilmente
coexistir com um emergente sentido de identidade nacional americana e até
mesmo manter boa parte de sua vitalidade. (GREENE, 2008, p. 122).
O índio e a construção da memória nacional
O que nos interessa nas discussões mencionadas anteriormente é observar que a
formação das nações não parte, necessariamente, de reivindicações étnicas ou
nacionalistas. O caso da independência dos países americanos é impossível de ser
explicado se partirmos desse pressuposto. As nações americanas possuíam um problema
particular: criar uma nova nação a partir de uma antiga colônia europeia. Mais do que em
ideias etnonacionalistas, a emancipação política dos países americanos baseou-se em
queixas e interesses. Isso se torna claro quando observamos que a língua, as leis, as
religiões e os costumes das novas nações americanas vieram, predominantemente, de suas
antigas metrópoles europeias.
Assim, na América – e, especialmente, na América Ibérica – o patriotismo e o
nacionalismo tomaram rumos específicos.
Já na época da independência, o nacionalismo desenvolvia-se como um
subproduto do Iluminismo e buscava uma liberdade fundada em direitos
universais (e teoricamente concedida por eles). Ele procurava o
reconhecimento e a defesa desses direitos mas jamais os fundamentou em
reivindicações de uma identidade especial. O modelo era o da Revolução
Francesa, não o chauvinismo napoleônico, mas um nacionalismo cívico
subjacente. O nacionalismo característico de Simón Bolívar, por exemplo,
carecia de referências a dimensões étnicas ou culturais; e tornava de
natureza política o critério máximo da nacionalidade. (DOYLE; PAMPLONA,
2008, p. 22).
No entanto, a etnicidade é de suma importância para a formação da memória
nacional. Isso pode ser observado no fato de que, uma vez formados os Estados-nação
americanos, eles trataram de criar uma identidade nacional unificadora, ainda que se
constituíssem por populações multiétnicas de indígenas, africanos, europeus e, mais tarde,
asiáticos.
Escreveram histórias heróicas e homenagearam heróis nacionais.
Construíram memoriais para as vitórias da nação e lamentaram suas
derrotas. Procuraram comprovação de uma cultura nacional distinta em sua
literatura, música e culinária. Na realidade, a necessidade de construir uma
identidade nacional comum era exatamente tão premente nas sociedades
de imigrantes multiétnicas das Américas quanto em outros países, mas as
nações de imigrantes pós-coloniais tiveram de trabalhar com materiais
diferentes. (DOYLE; PAMPLONA, 2008, p. 24).