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matas, outr’ora feliz, que com a invasão dos povos d’além passa a definhar “nos ferros de vil
servidão”. É inofensivo, arredio, e passa a vaguear sem pátria, medroso, “ou verga entre
ferros, cativo, a gemer”. E ao retratar a vinda dos portugueses fala em “ardente cobiça”,
“gente atrevida”, “voraz ambição”. Na segunda parte, após falar da devastação da natureza
para exploração da terra, e do surgimento de povoações, ao se referir ao índio agora usa o
adjetivo “ignavo”, que quer dizer “preguiçoso, indolente, covarde”:
Nos entresseios das florestas virgens
Onde repousa em paz o índio ignavo,
Foi astuto chatim sorver-lhe o ouro
E em troco os ferros lhe lançou de escravo (VELHO DA SILVA, 06 set.
1868, p. 3227).
Apesar de criticar o modo como tudo aconteceu, há a seguir o elogio do português,
homem de ação, em contraste com a inércia do índio. Além disso, faz a apologia da
catequização indígena:
Só é grande o Levita!...a unção nos lábios,
Na dextra o breviário, e a cruz erguida,
Co’a doutrina demove e arranca às trevas
Da humana raça à geração perdida; (VELHO DA SILVA, 06 set. 1868, p.
3227).
Mártir da fé, afoito afronta as setas,
Desarma as tribos co’a palavra santa;
Dos ídolos a um Deus, do erro à verdade,
Da terra ao céu, os bárbaros levanta; (VELHO DA SILVA, 06 set. 1868, p.
3227).
Chamando, assim, aos índios não-cristãos de “geração perdida” e “bárbaros”,
justifica a imposição da fé ocidental. Também contrapõe a morada e a cultura do índio ao
povo civilizado:
Sobre os destroços das extintas selvas
Templos se alçaram, ruas se estenderam,
Às tabas do gentio inculto e rude
Populosas cidades sucederam;
Dispersados os íncolas da terra,
Das mantilhas do berço ergueu-se um povo
Repleto de vigor, sonhando as glórias
Do ridente porvir d’um mundo novo. (VELHO DA SILVA, 06 set. 1868, p.
3227).