Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 11

Sobre a classificação do poeta dentro da poesia brasileira, Roberto Acízelo expõe:
Sílvio Romero, sem lhe conceder maior atenção, o instala no grupo do que
chama poetas de transição, entre classicismo e romantismo (1888, v.3,
p.774-5); Afrânio Coutinho o cita entre os pré-românticos (1955-59, v.2,
p.20); Péricles Eugênio da Silva Ramos o situa como epígono da primeira
geração (1965, p.16), sendo contudo o único autor contemporâneo de
antologias a distingui-lo com um lugar no seu
Poesia romântica.
(SOUZA,
1999, p. 80).
Cita ainda José Veríssimo, que depois de mencionar vários poetas secundários,
entre eles Velho da Silva, emitiria o seguinte juízo:
Publicistas, políticos, diplomatas, advogados, médicos, funcionários
públicos, poetas o são apenas ocasionalmente, inconsequentemente, mais
de recreio que de vocação, e a sua obra de amadores sobre escassa, o que
lhes revê a inópia do estro, é em suma insignificante. (1916, p. 162 apud
SOUZA, 1999, p. 80).
Roberto Acízelo não deixa dúvidas quanto ao lugar de José Maria Velho da Silva na
história da literatura brasileira: ao contrário do que diria Dr. Semana, o poeta nem de longe
poderia fazer parte do panteão dos grandes poetas; a não ser que fosse um outro tipo de
panteão: o panteão dos ilustres desconhecidos, já que na própria
Semana Ilustrada
é
possível encontrar outras espécies de panteões, como, em tom galhofeiro, se menciona o
“Pantheon dos maridos dedicados” (DR. SEMANA, 27 mar. 1864, p. 1374).
Galhofas à parte, é mister não confiar em sentença alheia, mas sempre rever os
pareceres dados, principalmente se estes foram feitos há muito tempo. Embora tudo indique
que os críticos estejam corretos, é importante situar o contexto de tais medíocres
produções, ou mesmo apontar o porquê da exatidão e da atualidade de tais juízos.
O “Canto à Independência do Brasil” é a primeira obra que se tem notícia do poeta.
Dividido em três partes, o poema narra desde a época anterior à vinda dos portugueses ao
Brasil, até a comemoração da independência, com elogios aos heróis da pátria e ao
Imperador. Tendo ao todo 57 estrofes, a composição é muito desigual, não apenas na
estrutura, como na abordagem.
A primeira parte é constituída por 14 quartetos hendecassílabos, em rimas pobres e
alternadas
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. Logo no início, aparece a imagem do “gigante que dorme”.
I.
Incauto, tranquilo, dormia o gigante
À sombra dos cedros das matas que tem;
Nem cuida imprevisto, nem pensa um instante
7
O poema abre com a seguinte epígrafe, de John Sanderson:
The memory of those eminent personages who proclaimed the
Independence of America, by the memorable events and haperishable records, to which their names are associated, is secure
from the injuries of time
.
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